segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Recomeços - Vera Rocha - Recomeços




Recomeços

Saberás só quando mergulhares nesse mar, enterrares todos os dedos dos teus pés na imensa areia fria e sentires o que nunca deixaste de ser;

Só quando tirares um momento dos teus dias atarefados para olhar a eternidade que conta o azul-escuro do céu, quando anoitece. A eternidade... E talvez uma lágrima role sobre tua face porque tudo o que conheces, tudo o que apalpas é mortal. E imaginar, conceber e reconhecer que existe eternidade é mais belo do que quase todas as coisas que existem, menos talvez a existência do Amor; 

Só quando parares e perceberes qual é o cheiro da tua pele, o cheiro de quem tu és, o cheiro da rua que te viu crescer e das que invadiste quando já eras crescido e que agora, também, são as tuas ruas. O cheiro das pessoas que amas, de tudo aquilo que alguma vez pôde significar alguma coisa para ti que o ruído do tempo não apagasse; 

Só quando disseres a tua oração baixinho, debaixo dos cobertores e, nesse preciso momento, sentires que és capaz de todas as coisas que alguma vez imaginaste. Que tudo o que imaginas é tudo o que existe em ti, é vida como é a realidade porque existe no sítio mais resguardado do teu ser;

Só quando ouvires como é inexplicavelmente belo o som da água a cair quando chove e quando passas numa fonte... tão belo que consegue fazer-te esquecer todos os males do mundo, por uns momentos de paz. E a paz és tu que a encontras, que a perdes que a tentas guardar quando ela quer fugir e que, sem saber, a afugentas quando ela quer é ser uma das tuas grandes amigas; 

Só quando perceberes os teus silêncios, só quando os teus silêncios forem maiores do que todo o barulho do mundo!

Saberás só quando recomeçares e mergulhares nesse mar...

Vera Rocha


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