quinta-feira, 30 de junho de 2016




COIMBRA

Vejo-te Coimbra
Cidade minha
Num caleidoscópio de estrelas
Alheia à breve notícia
E aos corações de pedra.
Estudei em ti o amor
Do teu lábio feito rio
A leve arquitectura das palavras
Ergo de ti séculos inteiros
Prateados de saudade
E que as gotas de orvalho
E a doçura das rosas
Vão soletrando, em ti
O nosso fado!

Anabela Coelho


quarta-feira, 29 de junho de 2016




SER MÃE

Ser mãe é amar o ente
na sensibilidade de ser mulher
olhar as profundezas da mente 
do ente que vida lhe der 
ser mãe é estar sempre presente
sem hesitar um segundo sequer.

Ser mãe é sofrer pensando
é sentir e não ver 
ser mãe é sofrer chorando 
até mesmo sem entender 
ser mãe é sofrer lamentando 
sem nada poder fazer.

Ser mãe é tranquilidade 
na alegria e na dor 
também é felicidade 
e estar sempre ao dispor 
ser mãe é ter a responsabilidade 
do produto do seu amor. 


Álvaro Dias de Lima
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Antoine de Saint-Exupéry - 29 de Junho de 1900 - 31 de Julho de 1944


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“Os contos de fadas são assim.
Uma manhã, a gente acorda
E diz: "era só um conto de fadas..."
E a gente sorri de si mesma.
Mas, no fundo, não estamos sorrindo.
sabemos muito bem que os contos de fadas
São a única verdade da vida”



Antoine de Saint-Exupéry

segunda-feira, 27 de junho de 2016


HINO À JUVENTUDE




Juventude, pura juventude,
A Manhã, o Amor,
Tão do fundo Pátria vertical
A crescer em esplendor.
Levemente num caminho novo
Onde o cântico é dom,
Poderoso dom de ser-se leve,
Alva flor de som.
Juventude pássaros no sangue,
Ó incêndios de luz!
P'la distância inda mais além
Que à distância conduz.
Labaredas no Destino onde
Jovens ó por Amar!
Destruindo o barro que vos esconde
Com um só vosso olhar.
Amor, ó Dom,
Indestrutível Dom, mais além,
Oh, no espaço Amar!

Vasconcellos Sobral


domingo, 26 de junho de 2016




Ela canta, pobre ceifeira

Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anónima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!
Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! Ó céu!
Ó campo! Ó canção! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!

Fernando Pessoa 


sábado, 25 de junho de 2016

~



Viver de Amor

Viver de Amor é velejar sem descanso,
Semeando nos corações a paz e a alegria.

Timoneiro amado, a caridade me impulsiona.
Pois te vejo nas almas, minhas irmãs.
A caridade é minha única estrela

E, à sua doce luz, navego noite e dia,
Ostentando este lema, impresso em minha vela:

“Viver de Amor!”

Viver de Amor é imitar Maria,
Banhando, com seu pranto e com perfumes raros,
Os pés divinos que beijava embevecida,
Para, depois, com seus cabelos enxugá-los…
Levanta-se, a seguir, quebra o vaso
E Vossa Doce Face perfuma…
Mas Vossa Face eu só perfumo, bom Senhor,
Com meu Amor!

Viver de Amor, é dar, dar sem medida,
sem reclamar na vida recompensa.
Eu dou sem calcular, por estar convencida
De que quem ama nunca em pagamento pensa!…
Ao Coração Divino, que é só ternura em jorro,
Em tudo já entreguei! Leve e ligeira eu corro,
Só tendo esta riqueza tão apetecida:

Viver de Amor!

 Santa Teresinha do Menino Jesus

   

sexta-feira, 24 de junho de 2016


Vamos todos festejar
O dia de s. João
Cantar, brincar e dançar
P'ra manter a tradição.


Carlos Arzileiro

quinta-feira, 23 de junho de 2016



São João encantador
Saúdo-te com emoção
Disfarça-te com o meu rosto
Vem ver as gentes sem chão.


Anabela Coelho




Meu São João Padroeiro
das festas e arraiais
dá marteladas na crise
que o povo sofre demais.


A. Alves Cardoso




São João, São João
Anda o povo todo aflito 
Broa e sardinha assada
E muita força no apito! 


Cecília Pires 



Que S. João nos ajude
Aos políticos a sanear
Antes que a ele também
O mandem emigrar

Viriato


S. João

















O Não Ter Tempo

Deus me pede do tempo estrita conta!
É preciso dar conta a Deus do tempo;
mas, quem gastou, sem conta, tanto tempo
Como dará sem tempo tanta conta?

Para fazer a tempo a minha conta
dado me foi, por conta, muito tempo:
mas não cuidei da conta e foi-se o tempo…
Eis-me agora sem tempo, eis-me sem conta!

Ó vós que tendes tempo sem ter conta,
não o gastei sem conta em passatempo:
cuidai, enquanto é tempo, em terdes conta.

Pois, se quem isto conta do seu tempo
houvesse feito a tempo apreço e conta,
não chorava sem conta o não ter tempo.

    (Anónimo)
(Antologia Portuguesa e Brasileira)




Chuva Interior

tanto que tu de mim levaste contigo tanto
levaste ruas jardins cafés parques até cidades:
os lugares que eram nossos e a que não voltarei
levaste a confiança da árvore no seu florir
deixaste as pedras e os cardos que me tornei
levaste destes olhos agora da cor das ausências
os mil brilhos de cristais que neles te constelei
levaste os pássaros que dos beirais do coração te
lançava e que em céus de exílio entretanto espantei
levaste o mar e ilhas futuras que me azulava a
alma e assim em praia de sargaços me desalmei
levaste as palavras que desde uma antiga manhã
para ti guardava e que nunca mais me ouvirei
levaste os poemas que na minha mão semeavas
e que porque te foste jamais escreverei


Sousa Dias (e Ítaca eras tu)




segunda-feira, 20 de junho de 2016



LÁGRIMA

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto                  
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto.
                          
Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo.

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer.

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar.


  Amália Rodrigues




MATER

A lua traz no ventre,
Aquartelado pelo tempo,
O presente efémero
E sonhos com asas de flamingo.
Os filhos do coração
Pintam o colo das mães
Com dedos de fantasia.
Mulheres d’areia,
Gaivotas de olhos salinos,
A choverem gotas de mar
Por entre seios desnudados
No chão de luar.

Lurdes Breda




Portugal é
Sem dúvida alguma
Um reino como ele só
Entre toneladas de rock
E outras tantas de futebol
Abafou-se o pensar, o sentir
Da maioria que tenta subsistir
Do idoso que tem que escolher
Entre os remédios e o comer
Do trabalhador que baixa a fronte
Que a migalha que ganha
É o ponto alto do debate
Dos orientadores da nação
Que para eles guardaram
Cem vezes mais do que dão
Como se lhes pertencesse
A riqueza do país
Ou a vida do cidadão
Armados de decretos condenam
À miséria e ao estender a mão
Mas de ti não tenho pena
Povo de vã glória
Que deixaste esmorecer
A herança dos séculos suados
Salta e pula nas arenas do rock
Ao ritmo dos novos bobos da corte
Berra, invectiva, deixar sair a besta
Nas arenas dos craques das mafias
Em que barril flutua a tua consciência
Onde te afundaste nobre povo
Raça extinta de um reino
Que existe apenas
Numa memória do futuro

Viriato







E foi assim que me fiz árvore!

A princípio era só céu!
E foi por isso que não deu
E zanguei-me com o céu!

Depois passei a ser só terra!
E foi por isso que não deu
E zanguei-me com a terra!

Finalmente, a pouco e pouco,
céu e terra deram-se as mãos fraternas.

E foi assim que me fiz árvore,
a crescer dentro de mim...

Eduardo Aleixo


domingo, 19 de junho de 2016


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <<Fui eu?>>
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa