quinta-feira, 28 de abril de 2016

Dia do Sorriso




Variações do teu sorriso

Como amo o teu sorriso!
Singular, ilumina-te o olhar
Teu coração contagia-se e irradia
O calor de um poderoso cristal

Vá vem daí, vamos apanhar estrelas?
Trocar com elas o brilho pelo sorriso
Brincar à luz e à sombra, quem ganhará?
Deixar que elas iluminem o trilho
Vá vem daí!

Em serena contemplação
Adormeci junto ao lago
Sonhei que vi uma garça
Avançava em gestos longos
Firmes e delicados
Quando se aproximou
Vi teu rosto sorrindo



Maria de Jesus





Pudera eu


Pudera eu devolver-te a leveza dos pássaros
para que voasses nas margens do rio
o sorriso que, desperto, em teu olhar
te ilumina o entardecer.
Pudera eu retirar todos os limos
que te resvalam nos gestos
a fragilidade do chão, escorregadio
sob os teus pés vacilantes.
Pudera eu devolver-te num raio de sol
a seiva a pulsar, qual primavera em apogeu
a cingir-te nos braços, o rio ao amanhecer.
Pudera eu atrasar os ponteiros do relógio
para te retardar no rosto os teus olhos cor de rio.


Ailime




segunda-feira, 25 de abril de 2016

Água

Ciclos

Os ciclos são cordas que nos reforçam, e as paragens, a reflexão dos ciclos.

No eco da palavra distorcida
larva sentida da incompreensão
retorna o amor com que o criador
nos ampara pela via da redenção
A paz idealizada é nascente de água
que em alguns jardins o deserto secou
São no entanto as flores enraizadas
de todos os planos as mais amadas
pelo Deus que também as gerou
e em solo árido as plantou

Paz na Terra e no Céu a todas as manifestações da
Suprema Consciência Divina

A.






COMO TU
(Homenagem a Cecília Meireles)




Como tu, fada das palavras singulares
Passeei sozinha pelo jardim da vida
Colhi flores de nuvens brancas
Embriaguei-me no perfume das estrelas
Pousei o pensamento no mar alto
E compareci nesse tango infinito.


Como tu, bebi os cristais do luar
Fui indo, calada, no dilúvio do grito.

Ah! Como tu...
Andam os meus olhos sem sono
Fui pela mão direita da noite
Procurando no meu rasto, o meu rosto
Aonde está o meu lábio fechado, sem fome?
Arqueei a minha mão à minha procura
O vento acenou-me...
Cantou o meu nome!



Anabela Coelho


quinta-feira, 21 de abril de 2016

O Amor Antigo





O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor. 


Carlos Drummond de Andrade






Lembrando Hilda Hilst






Hilda Hilst

21/4/1930 // 4/2/2004





Se te pareço nocturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.


Hilda Hilst


quarta-feira, 20 de abril de 2016


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RUMO AO SUL

A tarde encolheu-se
Vestiu a noite de silêncios brancos
Derramou memórias num arroio de cores
Segredou-lhe amores com voz adormecida
Palavra saudade, caída...
Pintou-a com um suspiro azul
Quase corpo
Quase alma
Quase vida
E rumou ao sul.


Anabela Coelho
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Rosa Lobato de Faria





Rosa Lobato de Faria

20 de Abril 1932 // 2 de Fevereiro 2010


De ti

De ti só quero o cheiro dos lilases
e a sedução das coisas que não dizes
De ti só quero os gestos que não fazes
e a tua voz de sombras e matizes

De ti só quero o riso que não ouço
quando não digo os versos que compus
De ti só quero a veia do pescoço
vampira que já sou da tua luz

De ti só quero as rosas amarelas
que há nos teus olhos cor das ventanias
De ti só quero um sopro nas janelas
da casa abandonada dos meus dias

De ti só quero o eco do teu nome
e um gosto que não sei de mar e mel
De ti só quero o pão da minha fome
mendiga que já sou da tua pele. 


Rosa Lobato de Faria



terça-feira, 19 de abril de 2016


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Escrevi
Enquanto despreocupado
Corria o frio rio
E no sopro de uma aragem
Voava feliz a consciente liberdade
Desprezando a prima libertinagem.

Escrevi
Que no aquietar de ânsias revoltas
Florescem vazios e ausências
Sem saber se um dia voltas
E que triste é a criança
Que não nasce criança
Nem nunca falou de esperança.

Escrevi
Que mais além te levará o sonho
E que, repetidos, sem acaso,
Sempre surgem o ocaso
E fingidos luares sem lua.

No esvoaçar da negra andorinha
E na espera da risonha primavera
Sem dor no cair da pétala
Chora a flor. Chora, chora!


João Coelho dos santos

Do livro NA ESQUINA DA VIDA


segunda-feira, 18 de abril de 2016

Antero de Quental






Antero de Quental 

18 de Abril de 1842 //  11 de Setembro de 1891




Nirvana



Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!

Antero de Quental, in "Sonetos"
 


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Roda de Poesia


O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL , Cesário Verde - Por, João Villas Boas

SABEDORIA, José Régio - Por, Bruno Huca

AS PALAVRAS INTERDITAS, Eugénio de Andrade - Por, Margarida Carvalho

Meditação do Duque de Gândia, Sophia de Mello Breyner Andresen - Por, Rita Lo...

UMA PEQUENINA LUZ, Jorge de Sena - Por, Catarina Guerreiro

MÃEZINHA, António Gedeão - Por, Vitor D' Andrade

[Quando vier a primavera,], Alberto Caeiro - Por, Pedro Lamares

sexta-feira, 1 de abril de 2016

A Maior Flor do Mundo | José Saramago

ETERNO REPOUSO



Eterno Repouso

Em cada dia amanhecendo
Aos poucos vamos morrendo
Enquanto o sustento da vida
Se vai exaurindo
E na hora da despedida
Ao Senhor entregamos a alma
Que de luz se inunda
Numa auréola florindo
Da paz que penetra nos seres
Que repousam no sono eterno
E nesta alvorada mansa
Que se acende no horizonte
Quando a vida não é mais nada
A vida por fim descansa…


Maria Graça Melo