terça-feira, 31 de março de 2015



Quando a inspiração falta …onde procurar
Quando as dúvidas surgem …como perguntar
Quando o sol desaparece e a melancolia desce...o que fazer
Quando o amor não acontece…o que sentir
Parar …respirar …observar…deixar fluir
Experienciar.. …aceitar e partilhar emoções, sentimentos, conhecimentos…
Abrir o coração à vida, sem medos, sem expectativas, sem contrapartidas
Despertar desta apatia latente e do fundo do nosso ser agradecer...
E assim quem sabe ver as coisas tal qual elas são, perceber a verdadeira natureza da nossa mente
Livre de conceitos, tendências, programações e reprogramações, ser livre finalmente….
E nesse estado de serenidade em que não há perguntas, não há respostas, não há dúvidas, não há dor
Estar simplesmente em paz e com o universo poder vibrar a verdadeira energia de amor …



Lara Rodrigues




O Nosso Olhar

Nosso olhar 
Se cruza.
Se encontra.
Se expande.
Vemos para além de nós
Para além das nuvens,
Um caminho feito de estrelas.
Vemos para além da vida
Para além da morte,
num instante de eternidade
Que nos sustenta…
Que nos sustem…
Que nos une…
Que nos inebria…
E, nos confunde!…
Entregamos nossos corações a esse instante.
E, subimos para além das nuvens,
entre a serra e o céu.

Helena Guerra





Primavera

Estou de partida do negrume de luxo e glamour,
Da hibernação dos sentidos entorpecidos e desejos amedrontados.
As ilusões que carrego no acordar de vontades loucas,
Leva à sedução poética do atrevimento onde jaz o grito silencioso.
Das muitas perguntas adormecidas pelo escárnio da vida alheia,
E pela debilidade da matéria de que sou refém neste recanto das letras,
Teço o meu passado com o sussurrar do vento sentido.
O fim da subserviência pelo vislumbre do olhar inocente,
Irrompe a paisagem de manto branco, envolvida na sensualidade nua
E rejuvenescida incessantemente no furor do abraço cobiçado.
A brisa sacia de gosto requintado, a celebração da assunção de aromas nostálgicas,
Condimentando a harmonia e a cumplicidade da renúncia da solidão vivida.
Onde o desprendimento do recolhimento rebuscado,
conduz ao deleite dos fragmentos renovadores que acaricia a chegada da Primavera.


Jorge Poeta (Almeida)







Prometam-nos que essas criaturas
aves de nome e jeito vão regressar
aonde a ausência mais punge e devém
refluxo violento  E dêem como certo
que murmurando os lábios um por um
rente os nomes e antiguidade  e assim
que a maré desça e as margens íntimas
se refaçam esse vento de levante traga
de volta aquelas que ao largo ensinam
os trâmites inauditos do despojamento

                                         
Maria Albertina Mitelo
                     
                                       in Entre Pássaros e o Mar,


Sente-te…

No calor de uma emoção,
Das que nos transformam o coração,
Sente-te…
No amago de uma dificuldade,
Das que deturpam a nossa Verdade,
Sente-te…
No momento de criar Vida,
De carrega-la nos nossos braços e enchê-la de abraços.
Sente-te…
No momento de despedida,
Em que a Alma passa a ser Viva,
Sente-te…
E agora, que entraste na tua jornada,
Que a tua alma está mais depurada,
A energia original se faz sentir,
Sente-te, conhece-te, recria-te!
Permite-te apreciares-te a ti própria, viver as tuas alegrias,
As tuas energias, o teu próprio Viver e só assim,
Te encontrarás contigo, só assim conseguirás crescer.



Eliana Póvoa



sábado, 28 de março de 2015

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Alexandre Herculano 


28 Mar 1810 // 18 Set 1877








Graça

Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?

És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?

Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,.
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d'ouro e púrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus, do mar dormente.
És tu, és tu!, que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.
És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.
Sinta a tua voz de novo,
Que me revoca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!...

Alexandre Herculano, in 'Antologia Poética' 

segunda-feira, 23 de março de 2015

Herberto Helder deixou-nos, mas também o legado da sua extensa poesia




Herberto Helder

23 de Novembro de 1930 / 23 de Março de 2015




Paixão Grega - 

Li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,
quando alguém morria perguntavam apenas:
tinha paixão?
quando alguém morre também eu quero saber da qualidade da sua paixão:
se tinha paixão pelas coisas gerais,
água,
música,
pelo talento de algumas palavras para se moverem no caos,
pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,
paixão pela paixão,
tinha?
e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,
se posso morrer gregamente,
que paixão?
os grandes animais selvagens extinguem-se na terra,
os grandes poemas desaparecem nas grandes línguas que desaparecem,
homens e mulheres perdem a aura
na usura,
na política,
no comércio,
na indústria,
dedos conexos, há dedos que se inspiram nos objectos à espera,
trémulos objectos entrando e saindo
dos dez tão poucos dedos para tantos
objectos do mundo
e o que há assim no mundo que responda à pergunta grega,
pode manter-se a paixão com fruta comida ainda viva,
e fazer depois com sal grosso uma canção curtida pelas cicatrizes,
palavra soprada a que forno com que fôlego,
que alguém perguntasse: tinha paixão?
afastem de mim a pimenta-do-reino, o gengibre, o cravo-da-índia,
ponham muito alto a música e que eu dance,
fluido, infindável,
apanhado por toda a luz antiga e moderna,
os cegos, os temperados, ah não, que ao menos me encontrasse a paixão
e eu me perdesse nela
a paixão grega


Herberto Helder


sábado, 21 de março de 2015

Que maravilhoso dia da Poesia passado em família.




A Poesia de braço dado com a Floresta


Hoje, o Jardim do Pai Américo
Está em festa
É o dia da Poesia e da Floresta
Hoje, das árvores do
Jardim
Brotam folhas
E Poesia.
As Árvores e a Poesia
Estão unidas num só dia.
As folhas ao vento
Sussurram palavras no Agora
E no Momento
- Sorriam, sorriam, sorriam...
Este é um novo dia
Dia Primaveril
Poético e de encantos
E de ideias mil...
Pulem, saltem, brinquem
Cantem e dancem
Enfim, soltem-se...
Cheirem, degustem
Sintam, ouçam, toquem
E vejam a bondade, o amor
A beleza
Desta vossa Mãe
Natureza.


Maria Alice Branco


Para todos os Poetas


E porque a Primavera nos presenteia mais um ano!

Quando vier a Primavera
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Fernando Pessoa. Poemas de Alberto Caeiro. "Poemas inconjuntos" (1930)

No Dia Mundial da Poesia a nossa homenagem - Parque dos Poetas em Oeiras

21 de Março - Dia Mundial da Poesia


sexta-feira, 20 de março de 2015

20 de Março - Dia Mundial da Felicidade



A idade de ser feliz

(Mário Quintana)

Existe somente uma idade para a gente ser feliz.
Somente uma época na vida de cada pessoa
em que se pode sonhar e fazer planos,
e ter energia bastante para realizá-los,
a despeito de todas as dificuldade e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encontrar com a vida
e viver apaixonadamente,
com o entusiasmo dos amantes
e a coragem dos aventureiros.
Fase dourada em que se pode criar e recriar a vida
à imagem e semelhança
dos nossos desejos;
e sorrir e cantar, e brincar e dançar,
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e desfrutar de tudo com toda a intensidade,
sem preconceito nem pudor.
Tempo em que cada limitação humana
é só mais um convite ao crescimento;
um desafio a lutar com toda energia
e a tentar algo novo, de novo e de novo
e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão especial e tão única
chama-se presente...
E tem apenas a duração do instante que passa...

Mário Quintana



           Alice Vieira 

            20 de Março 1943




Sempre amei por palavras muito mais
do que devia
são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero

Alice Vieira

in O QUE DOI AS AVES (Caminho, 2009)




quarta-feira, 18 de março de 2015

~~ por causa dum poema ~~

  

~~  por causa dum poema ~~

Eu sei que um dia vou te encontrar
numa floresta ou em outro lugar.
No Universo o tempo não existe
não fiques triste, não fiques triste...
Nesta ansiedade até esqueci teu jeito
e a distancia não passa dum conceito.

Vem hoje ou amanhã ou qualquer dia
pois tudo o que me encanta é Poesia !




Manuela Graça



terça-feira, 17 de março de 2015

Dona Abastança - Manuel da Fonseca ...actualizadissimo...



Dona Abastança

«A caridade é amor»
Proclama dona Abastança
Esposa do comendador
Senhor da alta finança.

Família necessitada
A boa senhora acode
Pouco a uns a outros nada
«Dar a todos não se pode.»

Já se deixa ver
Que não pode ser
Quem
O que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
E sai caro fazer o bem
Ela dá ele subtrai
Fazem como lhes convém
Ela aos pobres dá uns cobres
Ele incansável lá vai
Com o que tira a quem não tem
Fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
Que não pode ser
Dar
Sem ter
E ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
Sempre ao bem-fazer foi dado
Pouco custa a quem roubou
Dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
De tão estranha caridade
Feita com dinheiro do povo
Ao povo desta cidade.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano" 


segunda-feira, 16 de março de 2015



NOVO DIA, NOVA LUZ...               

Meu coração transborda de esperança...
Nesta hora e dia, nesta data...
Uma alegria imensa ressurge
Para afagar meu doce e terno olhar
Profundo e enigmático, bem inerrante,
A tentar ultrapassar
As camadas da ilusão
A fim de poder desvendar
E ultrapassar a barreira do infinito,
Amorfo, indizível, desconhecido,
Para satisfazer o meu ego,
Ávido de conhecimento e saber
E, assim, poder isolar,     
O amargo da monotonia
Que, muitas vezes, o pretende amortalhar.

A vida se agita!...
Baloiça, baloiça, baloiça...
E, por vezes, se ilumina,
Enquanto o pensamento,
Senhor e amo,
Tenta ultrapassar
As nuvens que no alto brilham
E onde reina o silêncio,
A paz e a pureza, sedução maravilhosa,
Para quem procura,
Palavras de pureza,
Um conselho amigo,
Um sorriso aberto, mais afectivo,
Uma palavra de ternura,
Perfeita, mais abrangente,
Enfim, mais precisa e imaculada,
Pois que o amor é, sempre,
Lenitivo para extinguir a dor.

06/03/2015
Prosa ( António Pais da Rosa – APP)




Camilo Castelo Branco 16 Março 1825 - 1 Junho 1890

quinta-feira, 12 de março de 2015

Março, mês da Poesia







Um passeio na Avenida






Na tarde morna o vento arrasta os sedimentos de conversas soltas e ouve-se o murmúrio …”não existe tempo para ler poesia”…

A poesia e o tempo sorriem… de mãos dadas refastelados na esplanada dos dias, observam com dó os que gastam tempo depressivo, vazio, sem vida…
Estes, não perderam a poesia ! Perderam foi a visão!
- olhares entaipados em mortalhas de ansiedade!
- sonhos sem tradução… perderam o guião da sua própria vida
Olhem!…conseguem ver?
- o sorriso do menino no encalço do balão
- a gaivota ruidosa mensageira do mar
- os olhares (os que estão vivos)  que transbordam amor
Poesia é magia que distende o tempo, para que nele se possa acomodar a vida.
- Respira-se! Pelo olhar que vagueia em letras desenhadas na alma
- Conta-se! De Camões a Pessoa a história deste povo que inventou o destino  
- Diz-se! Na voz bendita - No coração silencioso - No olhar amoroso… Em que o tempo se detém… para a deixar passar...

E viva a poesia!


Maria Adelina








                                                          Quando a prosa, se torna poesia…



Raul Brandão

12 de Março 1867 – 5 Dezembro 1930










“Um dia destes temos que nos separar, e é natural que seja eu, que sou mais velho, o primeiro a partir... Antes, porém, quero dizer-te que te devo o melhor da vida. Foste tu que me desvendaste o amor que eu desconhecia. A bondade e a ternura, que eu desconhecia. Não exerci talvez nenhuma influência na tua alma — tu apaziguaste-me. O amor era em mim um simples impulso: criaste-o, e pouco a pouco essa força nas tuas mãos se transformou em sentimento religioso”


Raul Brandão, in "Memórias (Dezembro 1924)"