quarta-feira, 31 de maio de 2017

A verdade é que fomos



A verdade é que fomos
feitos do mesmo sangue
violento e humilde

A verdade é que temos
ambos a graça de compreender
todos os homens e todas as estrelas

A verdade é que Deus
nos ensinou
que este é o tempo da razão ardente


Deus hoje deu-me um pouco
do que toda a vida lhe pedi
foi esta calma e simples aceitação 
de que é preciso que estejas
longe de mim
para que amando eu possa conservar
o meu coração puro

Tu ensinaste-me as palavras simples
as palavras belas
as palavras justas
E fizeste com que eu já não saiba
falar de outra maneira.

O amor substitui
o Sol — que tudo ilumina.
Sonhar contigo é quase como
saber que existo para além de mim


Vê como é tão simples
ter o coração
tão perto da terra
e os olhos nos olhos
e a alma tão perto
da tua alma

Raúl de Carvalho, in “Obras de Raul de Carvalho” 

terça-feira, 30 de maio de 2017

Nuvens





Nuvens


Pedi ao vento o cajado com que pastoreia as nuvens
Mapa, roteiro ou intenção…para onde é que elas vão?
O vento sorriu… e em brisa serena murmurou:
As nuvens são suspiros dos astros
Na rosa-dos-ventos procuram rumo
Para além de fúteis horizontes
As nuvens são leitos de sonhos
Guardiãs dos passos dados e por dar
Naus vagarosas onde o mosto macera
Os aromas e sabores da libertação


Maria Adelina


segunda-feira, 29 de maio de 2017

Os Santos Populares no "Manhãs de Poesia"


LÁGRIMAS SENTIDAS



O tempo foge de mim
A pressão não vai parar
A erosão me desgasta
Quando o dia começar 

Ouço vozes não sei onde
Que parecem ser sinais
Dos sonhos que não sonhei
E não vou sonhar jamais

Vida que nunca vivi
Contos que nunca contei
Caras que não conheci
Risos que jamais mostrei

Transpor barreiras de medo
Cantar poemas de dor
Chorar lágrimas sentidas
Mas viver um grande amor

Carlos Arzileiro Pereira

27/05/2017


domingo, 28 de maio de 2017

Quando a poesia se torna Hino de Amor e Integração - Homenagem à grande Dama do Canto, Mercedes Sosa

Abre-se em mim





Abre-se em mim.
Nova consciência
Novo olhar.
E, caminho ao encontro da luz,
devagar…

Atentamente, escuto, olho,
E, há uma voz interior que me chama
E, há um mundo exterior que se agita.

E, há uma promessa divina
de graça…
E, há a natureza interior das coisas,
reflexo e espelho de mim e do todo.

E, é como se eu estivesse em todas as coisas

E, é como se eu fosse luz, vento, brisa, flor ou folha.

E, é como se tudo estivesse em tudo e eu estivesse aí, e nada mais fosse do que uma folha ou um raio de sol.


Helena Guerra



sábado, 27 de maio de 2017

É PROIBIDO PROIBIR




Não ousem proibir as palavras
nem ousem roubar-nos as letras.
Não há paredes ou muros que possam prendê-las.
Elas são aves, são peixes, são sonhos,
são o leve ondular das sementes
são águas vivas e sol
que os meninos, sentados na soleira da vida,
vão bebendo, ainda ensonados, na luz da manhã.
Elas são o rio por onde seguimos
quais naves saídas da bruma
são todas urgentes, que não falte nenhuma!
E há sonhos que só podem ser embalados
no veludo envolvente das sílabas
que os homens vão soletrando
sem trelas, limites, fronteiras.
Uma flor inteira é feita de todos os sonhos.
Todas, desde a mais ínfima letra, são argilas
para florir uma rosa
ou para desenhar o Amor no rosto pálido dos homens.

A. Alves Cardoso 



quinta-feira, 25 de maio de 2017

A TUA MÃO




Não há mercador para a tua mão
vazia e leve.
Se a cobrirem de ouro e prata
a tua mão continuará vazia e leve.
A tua mão!
A tua vaga mão
Faz a viagem peregrina
Sozinha pela multidão
Leve, leve…
Não, não há mercador
de nome erguido na poeira
que avalie a tua mão.
Nem há juiz que ordene, julgue e puna
A tua mão.

   
               Anabela Coelho

Um dos poemas mais lindos de sempre...pelo grande António Ramos Rosa



Estou vivo e escrevo sol


Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no ato de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Como a Libélula





La libélula salta agonía alrededor
de los filamentos de la luz artificial
que la ciega, que le quema las alas
Así que giran
las almas estancadas de presunción
en el marco de los engaños, y pasmos ...

Maria Assis

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Eco




Escucho la canción que tú cantas y nadie más oye
Y el estertor de tu corazón que a los demás parece vivo
Oigo el grito de socorro de tus labios en sonrisa
Y el llanto seco donde tu alma naufraga
Oigo, en el mismo eco que nos aleja


Maria Assis


domingo, 21 de maio de 2017

Amor Sentido








Amor sentido, vivido,
Alma repartida e sempre inteira,
fragmento amoroso que em nós ficou,
e despertou,
e germinou,
e os "fragmentos" vão-se reconhecendo,
as mãos se dando e fortalecendo
o Caminho, os Caminhos
que separados-juntos vamos percorrendo!
Qual Paraíso está de novo
a ser preparado!
Flores perfumadas formam as estradas
que vamos percorrendo
na Festa deste Caminhar.
E as mãos fortalecidas
por todas as que se encontram
prosseguem e entoam o verbo AMAR.


E. Flora



sexta-feira, 19 de maio de 2017

Só a Fé



Só os eixos profundos da fé sustêm a alma 
na derrocada das montanhas  onde cresceu
da morte das árvores que amparou
das  sementes em solo estéril e das
chuvas ácidas despropositadas

Só a fé, certificada na ilusória realidade
alimenta  sorrisos temperados
de ternura e melodias que o vento traz
desenhados no álbum do eterno presente
matriz da ampla e fermente raiz

Só o rugido da fé, dilacerante
se agrega ao da alma em pena
enlace que ao céu estremece
na forja da transcendência
lúcida, no seu peregrinar


Nina



quinta-feira, 18 de maio de 2017

Escondo- Escondo (Te)





Conto de trás para a frente
Porque te escondo dentro de mim...
Avesso
Como os cantinhos da minha praia
sei os da tua pele…
Mas é o teu avesso que me fascina.
Itinerário
Há um comboio ao fim da tarde
que me leva à estação do teu riso
a uma casa com música
a um jardim com magnólias.
Há um comboio
que entorna a tua sombra no meu chá
que enlaça as tuas mãos nas minhas
e depois te leva de mim
deixando na gare uma mala de saudades
que não sei desfazer nem arrumar…


Teresa Queirós Ferreira


sábado, 13 de maio de 2017

Manhãs de Poesia - 14 de Maio


INCERTEZAS




Ai se eu pudesse sonhar o que nunca vou saber
Ai se eu pudesse dizer quanto o coração me doí
Ai se eu pudesse fazer tudo o que me apetece
Era talvez o que sou sem que ninguém o soubesse.
A incerteza é algo que nos destrói:
É o que se sente e não se vê
Que nos transforma sem querer
Que nos impede de lutar
Que nos inibe de viver.
O que mais é necessário para que as nossas dúvidas pereçam?
A dúvida é um turbilhão que nos acompanha dia a dia.
para quê tanta luta, se o amanhã é uma incerteza?
Agora compreendo o meu filho quando me dizia: PAI, VIVE UM DIA CADA DIA.
Depois de uma noite mal dormida, é possível que uma ambição desmedida
seja algo incontrolável, mas creio não ser essa a postura correcta de
alguém que acreditando, talvez sim, talvez não, quem sabe?
se um dia um mundo melhor, nos oferece as certezas que faltam,
para que se faça luz ao que ao longo dos tempos tem sido a nossa cruz

Carlos Arzileiro Pereira

11/05/2017



sexta-feira, 12 de maio de 2017

Errância



Errância

Arruma as tuas alegrias
E faz as malas como se fosses emigrante
Leva contigo todas as coisas
E parte de dia como se fosses emigrante
Para que possas levar também a luz
Abre a cal. O flanco do muro
Porque vais como emigrante e precisas
De regressar
Na parede faz uma abertura
Para que os que passam vejam o teu rosto
E não digam: vai beber ao poço
Vai visitar um parente no estrangeiro
Ninguém chora por razões assim
Parte de tarde, dobrando a luz
Cobrindo o rosto de cinza e de sombra
Porque és um povo que abandona a tua casa
E nos teus passos eu arraso o teu país


Daniel Faria


quinta-feira, 11 de maio de 2017

Chuva Amada





Chuva… quanto de ti é poesia
Nos tons singelos do teu cantar
Código morse dos anjos solares
Como pode alguém não te amar

Fluído vaporoso em coração venturoso
Nuvem que se adensa na alma em fervor
Que retorna, por amor, em beijos molhados
Ao leito do mar, que em êxtase, se fez saudade

Sei que tens pressa irmã querida p`ra casa retornar
Abençoa-me, tão só, com a fragrância da terra baptizada
Cã visão do arco-íris flamante, veleiro de sonhos eternizados
E em meu rosto, pingentes, lágrimas de luz, estrelas cadentes


Maria Adelina






quarta-feira, 10 de maio de 2017

Vias mágicas



Vias mágicas
São carícias silvestres
Amores perfumados
De sons alados
Telas pedestres

Cada canto
Canta
E por tanto encanto
Fico inebriado
E sonho maravilhado
Bem acordado
Com a doce dança
Da melhor herança

É a vida que cintila
E abraça
Quem passa
Com a mente escassa
E o coração de graça

E cada passo meu
É um beijo teu
Que a fada deu
Na penumbra da solidão
Que o duende brincalhão
Sorri para a imensidão

E a alegria brota
De uma simples bolota
Que a cândida beleza
E com toda a certeza
Conduz o peregrino
Na senda da realeza

Poema e Foto de Jorge Moreira


terça-feira, 9 de maio de 2017

As fontes




Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal,
E calma subirei até às fontes

Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora,
E na face incompleta do amor

Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.


Sophia de Mello Breyner


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Quero a felicidade






Quero a felicidade
Para purificar o olhar
No encanto de cada sorriso
Ela é como o aroma 
Que exala em cada canto da alma
Num tom de suavidade perfeita
Que ameniza e acalma.

Quero a felicidade 
Como o orvalho que cai leve
Para refrescar as pegadas da vida
Saborear a loucura do desejo
Num voo de liberdade 
Como um bando de gaivotas
Que pestanejam sem parar

Quero a felicidade 
Nas vagas da aventura 
Onda cada onda traz um beijo
Para temperar o vácuo de cada ser
E acordar os sonhos e as ambições 
Que pairam no silêncio 
E adormecem o nosso viver

Quero a Felicidade
Para suprir a tristeza e a dor 
Entender a essência de cada ser 
Porque a felicidade tem cor
Ilumina o nosso viver 
A felicidade é o beijo do amor 
Que cada ser deseja ter


Álvaro Lima

domingo, 7 de maio de 2017

Mãe - Sónia Castro





Mãe

Acho que veio do céu,
Coberta com véu
Qual Santa
A embalar-nos a vida.

A nívea cor de sua aura
É a mesma 
Em todos os lugares do mundo
Sua dor e amor

São inigualáveis.
Hora chora,
Hora sorri,
Espelhando n'alma
O que do filho traduz.

Mulher maravilhosa!
Rigorosa e piedosa,
Nem sempre reflectindo no sorriso
O pranto que lhe cobre a alma. 


Do Livro Sensibilidade
Sonia Castro



sexta-feira, 5 de maio de 2017

Tenho Saudades do Calor ó Mãe



Tenho saudades do calor ó mãe que me penteias
Ó mãe que me cortas o cabelo — o meu cabelo
Adorna-te muito mais do que os anéis

Dá-me um pouco do teu corpo como herança
Uma porção do teu corpo glorioso — não o que já tenho —
O que em ti já contempla o que os santos vêem nos céus
Dá-me o pão do céu porque morro
Faminto, morro à míngua do alto

Tenho saudades dos caminhos quando me deixas
Em casa. Padeço tanto
Penso tanto
Canto tão alto quando calculo os corpos celestes

Ó infinita ó infinita mãe

Daniel Faria


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Manifesto de uma Guitarra



Mistura o som com o tom da emoção que dos graves irradia em decibéis cuja vibração ressoa em batida ritmada na mente ancorada pelas cordas sustenidas no agudo timbrado do fonema inspirado pela acústica abafado em ritmo compassado por teclas projectado nas notas desarmónicas pela inflexão da fala moldada por repercussão quando negas à composição a autoria do coração.


Encontramo-nos onde fores feliz



Não me digas
que queres ter asas
se tens medo de voar

Não me digas
que queres ter voz
se tens medo que te oiçam

Não me digas
que queres ser diferente
se tens medo da mudança

Não me digas
que queres chegar
se tens medo de partir

Não me digas
que queres guardar
se tens medo de perder

Diz-me
que apesar do medo
vais voar, vais gritar, vais mudar, vais partir, vais guardar
mesmo que o medo
mesmo com medo
voa, menina
grita, muda, parte, guarda
Não pares.
O tempo não pede licença para avançar
Avança com ele até onde fores feliz.
Diz-me
Tens medo?
Todos temos.

Encontramo-nos lá.



Pedro Rodrigues