segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

“ESTAREI SEMPRE CONVOSCO”


Na penumbra dos dias
Ouço voz de cada alma
E repouso no colo
De quem chama por mim!
No silêncio sem palavras
Ofereço partículas coloridas de paz
Pousando o olhar na vil humanidade
Que deambula na inquietude
Pelas entranhas da terra.
Vejo gente coberta de lama
Com garrotes de dor e sofrimento.
Almas cheias de nada
Semeiam crimes hediondos
Por entre as gentes.
Dos meus olhos brotam lágrimas trémulas
Que teimam em não secar!
Nas asas do vento
Subo ao alto das montanhas
Dizendo a quem não chora o meu nome
Que é preciso ressuscitar o amor
Nas veias da terra, esmagar a angústia
E atar as almas com pedaços de ternura.
Não mitiguem a vicissitude
Do que nada muda
Nem troquem as teias do vazio
Pelo néctar da esperança.
É preciso trabalhar a vinha
Viver em comunhão
Seguir as pegadas do perdão
Escutar a voz da oração.
À criança que vive o calvário da dor
Apregoando faminta na rua
O nome da sua mãe
Entre balas que não se sentem
E rios de sangue inocente
Levem o amor e paz!
Ao ancião que jorra suores de angústia
Porque a incerteza lhe consome
E chora com a nostalgia do passado
Ofereçam a ternura e a caridade!
“Estarei sempre convosco!”
E “em verdade vos digo”
É preciso que cada homem
Traga a bondade na alma
E tempere o amor
Com a doçura de um beijo!

Álvaro Lima

domingo, 16 de dezembro de 2018

Olavo Bilac - Parabéns Poeta





Olavo Bilac

16 Dezembro 1865// 28 Dezembro 1918








Ouvir Estrelas

Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "
E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas



Olavo Bilac



sábado, 8 de dezembro de 2018

Ave Maria - Dia da MÃE - 8 de Dezembro

Florbela Espanca - Parabéns Poeta





Florbela Espanca - 8 de Dezembro de 1894 // 8 de Dezembro de 1930

Ser Poeta


Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior 
Do que os homens! Morder como quem beija! 
É ser mendigo e dar como quem seja 
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! 

É ter de mil desejos o esplendor 
E não saber sequer que se deseja! 
É ter cá dentro um astro que flameja, 
É ter garras e asas de condor! 

É ter fome, é ter sede de Infinito! 
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... 
É condensar o mundo num só grito! 

E é amar-te, assim, perdidamente... 
É seres alma e sangue e vida em mim 
E dizê-lo cantando a toda gente! 



Florbela Espanca,
in "Charneca em Flor"




sábado, 17 de novembro de 2018

SEMEADOR DE VERSOS



SEMEADOR DE VERSOS


O homem lavrando o sol
Arroteando versos e rimas
Semeando as terras lavradas
De sementes da alma…

Nos regos e sulcos, deixar
Que os versos floresçam
Que as águas irrompam do solo
Em suas fontes, suas florações letárgicas,
Como um poema acabado…

As rosas florirem
As tulipas, antúrios, os versos
Enroscarem-se nas empas
Em busca do sol…

O homem como um lavrador de sonhos
Um plantador de naus a haver
Um barco no mar, um barco no vento
Um rio correndo como outro qualquer…

No outono, a foice abocanhando os caules
Recolhendo os sonhos
Secando-os na eira
Aguardando as chuvas
E os pássaros a caminho do sul… 


A. Alves Cardoso



domingo, 30 de setembro de 2018

INFÃNCIA




INFÃNCIA

e jogava ao pião com Deus
enquanto minha mãe estendia a roupa
e o meu pai mendigava o pão

e minha alegria nesse tempo
era próxima da dos meninos
e de Deus que ganhava sempre

e não sei quem perdi primeiro:
o pião ou Deus
apenas sei que deus continua
a jogar com outros meninos

e que no Outono quando saio à praça
nos sentamos e falamos muito
do suave rodopiar das folhas

Daniel Faria


sábado, 29 de setembro de 2018

Outono - Miguel Torga

  


Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia 
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga




sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Entardecer





ENTARDECER

Cai do céu vespertino
Uma trémula folha
De outono.
Desce no coral do dia
Vem a dançar
Como uma pétala
Borboleta amarela
Para tombar, docemente
Na terra faminta
Que a espera.

Anabela Coelho


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Outono - Teixeira de Pascoais


Teixeira de Pascoaes - 2 de Novembro 1877 / 14 Dezembro 1952




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“O sol do Outono, as folhas a cair, 
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espirito a sorrir... “





quarta-feira, 26 de setembro de 2018

MANHÃS DE OUTONO



MANHÃS DE OUTONO

Gosto das manhãs de outono, orvalhadas!
Trazem as tuas mãos carregadas de sonhos.

Espreito pela janela
E os meus olhos bebem o orvalho da manhã
Banhado de fios dourados
E, mais ao longe, um manto de névoa
Lembra-me a espuma do mar
As gaivotas e o canto dos búzios
E segredos que só tu conheces
Meu Deus!
Como é possível ver o mar atrás dos montes!

Francisco Lucas


terça-feira, 25 de setembro de 2018

O Sol Outonal




O Sol Outonal

Tem a suavidade mágica
E a lonjura intransponível
Que nos protege quando irradia

A chuva não o embacia
Nem brinca à cabra cega
No eclipse da lua

O Sol Outonal
É o reflexo do que vemos
Num qualquer entardecer
Onde se conjugam
O casamento alquímico
Da sublime intenção
Pontilhada aqui e ali
P`lo ouro das auroras boreais
Manto, a tantas mãos bordado
Que aconchega e aquece
O menino Deus
Que adora adormecer
Nos nossos corações

A.



segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O Senhor Outono



O Senhor Outono
Está pendurado
Mesmo na beirinha
Lá do meu telhado…

O Senhor Outono
Camisa de vento
Traz o frio e a chuva
Já no pensamento.

Oh Senhor Outono
Deixe o sol brilhar!
Nós somos pequenos
Queremos brincar.

Vamos lá Senhor outono
Seja meigo e terno
Não deixe já entrar
O seu primo inverno!

TERESA QUEIRÓS FERREIRA

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Validar o Amor...




Validar o Amor...


Gostei deste toque.
Ou este sentir equilibrado de sentimentos.
Diria mesmo, sentir prazer pelo amor, apreciar o amor, elogiar o amor, admirar o amor. 
E sim gostei... tal como uma viagem, quando admiramos as paisagens, novas paisagens ou as mesmas paisagens que nos sorriem, quando as voltamos a observar. 
Não entendem amigos!
Falamos de amor...
O combustível, que nos move!
O Amor é exigente!
 A sua preciosidade, torna-o único. 
Não vivemos sem amor e tantas vezes deixamos amor partir, sem um obrigado dizer.
Forte não! 
Mas é o que acontece, quando o orgulho atrapalha o amor.
Talvez um grande amor...
Tanto para dizer sobre o amor.

Fernando Teixeira


Porto do Coração

segunda-feira, 30 de julho de 2018

30 de Julho dia da Amizade - Música do Coração ė , Amizade

                                                                  

A Música do Coração


Tem vida tem cor
Tem emoção e amor
Tem força tem fantasia
Não tem asas…mas sabe voar

Não é sonho nem é pássaro
Mas em rítmico embalar
Pelas estepes do Céu
Permite-nos viajar

Vibra em tudo o que é vida
Nas profundezas do mar
Na pedra, planta, flor
Na criança por nascer

É a música do coração
Que dá impulso a cada dia
Gratidão, generosidade
São seu timbre e melodia



A.




domingo, 8 de julho de 2018

LIBERTAÇÃO

LIBERTAÇÃO


Liberte-se a liberdade
Que vigore liberta
Pela voz de quem sabe
Pela voz do poeta

Liberte-se a liberdade
De preconceitos e mitos
Ideais de castidade
E choros d’ aflitos

Liberdade não se prende
Não se aprende,
não se vende
Não se compra,
não se troca
Não se impõe
nem se implora

Sente-se e pratica-se
Na medida certa
Sem vãos artifícios
Como diz o poeta
Sem pensar somente
Nos seus benefícios
Abre-se a um irmão
Como porta sem chave
Como quilha de nave
Que tem rota certa

E atinge a meta
Respeitando o mar
Seja brando ou bravio
Enfrenta o desafio
Sem que a ele se submeta
Como voz de poeta

Liberte-se a liberdade
De frases em panfletos
De poderes de amuletos

Liberte-se a liberdade
Que vigore liberta
Pela voz de quem sabe
Pela voz do poeta


Maria Graça Melo


sábado, 7 de julho de 2018

Luz




Emergindo da terra
Como a buscar a luz
E não ter mãos que a possam colher
Para os grandes frios do inverno.

António Alves Cardoso


sexta-feira, 6 de julho de 2018

O SANTINHO


  O SANTINHO

     A cor esbatida e gasta aviva-lhe a memória. O meu santinho é uma estampa e nada mais. Tem dentro dele toda uma vida. Tem dentro dele a minha Mãe.
     Aprisionou-a dentro das linhas de uma esquadria que a deixa inerte. Aprisionou-a para a guardar. As quatro linhas da cercadura moldam-lhe o rosto; deixam-na branca, de um branco de anjo, de um branco, branco, que nem eu mesmo soube apagar. O branco fere, tira-lhe a vida e a esquadria não deixa espaço, nem uma aberta para a soltar. Fica amarrada à minha espera.
     Não tenho aqui, mas vou sonhar. Sonhar a vida. Trazer tesoura. Fazer magia para a soltar. A minha estampa é um santinho e eu vou cortá-lo, a toda a volta. Ficará outro, mesmo esbatido, ganhará vida, cancela aberta para a Mãe voltar... Amarras santas também amarram e eu quero-as soltas: quero uma aberta para ver a Mãe.
     E a tesoura deixa-me a estampa retalhadinha toda em redor do rosto branco, meio difuso, meio apagado, da Mãe que encerra toda uma vida fora do altar. É que o santinho tem lá um anjo. Fechou-se lá para descansar. Venha a tesoura! Venha a magia! Não dou este anjo, nem para o altar!
     O meu anjinho não é já anjo... E é menina!... Perdeu as asas. Não sai do sítio. As quatro linhas deixam-no preso. Preso a uma estampa que é de papel... Vou recortá-lo. Mesmo sem asas, ainda é menina e é minha Mãe... Vou libertá-lo, dar-lhe outras asas, dar-lhe um caixilho do seu tamanho, mesmo à medida deste meu gesto que tira os santos do seu altar!
     E o meu santinho, já esbatido, é mais pequeno, mas diz-me coisas de me embalar... 


                                      Maria Aida Araújo Duarte

quinta-feira, 5 de julho de 2018

O QUE ME MOVE



O QUE ME MOVE 


Não me move uma ânsia de querer-te
enrodilhado nas malhas dos meus dias.
Nem me move o agora e sempre ter-te
no pensamento das longas noites frias.
Nada de ti minha alma ou vida espera,
és lembrança entre papeis amarelados
no Outono a que chegou nossa quimera.
Não me move restaurar o já perdido,
reviver o imaginário construído
noutro tempo em que a alegria em mim reinava.
Nada me move a não ser reencontrar,
com a paz quotidiana e outro olhar,
o caminho que, antes de ti, eu caminhava.

- do livro «ÂNCORAS E HORIZONTES» ,

de FINA D'ARMADA

terça-feira, 3 de julho de 2018

Sem Saber


Sem saber o que sentia…acordei

Abri meus olhos, fixei a luz e sorri…

Uma luz amarela raiada de mil e uma cores

Dizia-me bom dia…


Era um Ponto de Luz

Que procurava o caminho certo…

Procurava sair da encruzilhada

E encontrar a autoestrada da vida…

Era a Luz das mil e uma cores

Que me conduzia à cor amarela.


Era o amarelo do nascimento

Porque o vermelho é dor…

Era o amarelo da amizade

porque o azul confunde…

era o amarelo do amor

porque  o verde já foi a esperança…


Era o verdadeiro amarelo da luz…

 Tão bom estar dentro desse ponto de luz…

Ver todos os amarelos, ver a verdadeira luz do meu caminho…

Rosa Familiar

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Poesia aosa molhos - Teresa Queirós Ferreira



De mansinho…

Como uma onda que chega de mansinho

apareces no papel…

E eu, que queria tanto

esconder-te nos versos do poema

deixo-te fugir!

E fica o poema sem versos

e sem ti…


Chá de demorar a tarde


Eu esperava-te no meu chá

e quando chegavas

ao aroma dos frutos silvestres

juntávamos os beijos

que bebíamos a colherinhas

para demorar a tarde…


Despedida


Ali naquele canto de mar

onde bebo horizontes

e guardo o azul

que ao desfazer-se em espuma

me mostra o teu nome…

Vejo passar a andorinha

que leva o verão para longe…


O verão que acaba sem ti!


Teresa Queirós  Ferreira