terça-feira, 31 de outubro de 2017

Recordar Ana Plácido



Recordar Ana Plácido é fazer a justa homenagem à mulher que amparou, inspirou, amou, o homem enaltecido, que foi Camilo Castelo Branco.
Ana foi o sopro de vida de Camilo enquanto ele a vida suportou. Foi também exímia na escrita, o seu legado anda por aí escondido no pó do esquecimento.


"Luz coada entre as sombras
Aconchegam minha saudade
Daquele que foi entranha
Das minhas entranhas
Cuja dor a minha fez nascer"


Ana Plácido

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Recordar Camilo Castelo Branco


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Camilo Castelo Branco

16 de Março 1825 - 1 de Junho 1890



Este Amor Infinito e Imaculado

Querida, o teu viver era um letargo,
Nenhuma aspiração te atormentava;
Afeita já do jugo ao duro cargo,
Teu peito nem sequer desafogava.
Fui eu que te apontei um mundo largo
De novas sensações; teu peito ansiava
Ouvindo-me contar entre caricias,
Do livre e ardente amor tantas delicias!

Não te mentia, não. Sentiste-o, filha,
Esse amor infinito e imaculado,
Estrela maga que incessante brilha
Da alma pura ao casto amor sagrado;
Afecto nobre que jamais partilha
O coracão de vícios ulcerado.
Não sentes, nem recordas, já sequer?
Quem deste amor te despenhou, mulher ?

Eu não! Se muitos crimes me desluzem,
Se pôde transviar-me o seu encanto,
Ao menos uma só não me recusem,
Uma virtude só: amar-te tanto!
Embora injúrias contra mim se cruzem,
Cuspindo insultos neste amor tão santo,
Diz tu quem fui, quem sou, e se é verdade
O opróbrio aviltador da sociedade.

Camilo Castelo Branco, in 'Poema dedicado a Ana Plácido (1857)' 



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

EFÉMERO




EFÉMERO

A noite encontrou-a sozinha
De olhos vazios, cansados
Respirava o céu com o peso do chão perdido
E o pensamento esgarçava no abismo
E no silêncio das figuras frias.

Olhava o medo no espelho espedaçado
Sete vezes sete são os segredos
Que apertava na raiz da mão.

A noite estendeu o seu braço longo
E o seu convite mudo
Saiu com a alma dobrada
Foi pelo mar noturno...
E ninguém soube de nada!


Anabela Coelho

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

“Para onde vai uma canção depois do acorde final?” frase de Vander Lee



Será a rota do vento, sem sul sem norte
Que uiva perdido no bosque sem luz

Ou a orla solar que obscurece, cega
E tudo queima no seu sine rumo

Talvez a órbita da própria Lua
Que já não dança com as marés

E o mar agoniza em céu de breu
Que é som e dom da sua respiração

Para onde vai uma canção depois do acorde final?


poema, Maria Adelina


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

11 Minutos porquê?





Poema/resposta ao livro de Paulo Coelho  com o título “11 Minutos” em que este afirma que o tempo médio de uma relação sexual é 11 minutos

11 Minutos porquê?

Pergunto eu, e muitos outros com certeza!
Quem conhece a ansiedade da espera,
Da contagem dos dias, das horas,
Do calcular os quilómetros...
Onde estará agora?
Será que o trânsito flúi bem? Será que o carro sobreaqueceu?
Será que se enganou na estrada apesar do mapa que lhe ofereceu?
Será que se arrependeu?
Será que  adormeceu?
Ei-la que chega! Que alegria brota do coração
quando por fim a vê chegar
Sorri quando quer rir... gritar... mas pode parecer mal...
Olham-se, e os olhos falam, riem, desejam, penetram;
Entram, fecha-se a porta, a mala das mãos se solta,
E quatro braços envolvem-se num abraço
Num laço profundo, forte, quente…
Atropelam-se nas palavras,
Olham-se
E voltam a abraçar-se...
Apartam os corpos, mas só o suficiente
Para suas bocas se encontrarem, não é preciso falar...
A ânsia do beijar, do sentir, é tão grande quanto a do olhar:
Em que mudou? .............................
Acabam por apenas pronunciar, “olá”
Ele dá-lhe a mão e murmura.... vem .....................
Percorrem os poucos metros que os separam do quarto
Mão na mão, num entrelaçar que seria impossível separar
De novo o abraço sem nexo de tanto querer tocar.....
Mas ao separar.....Já as roupas vêm juntas e ao chão vão parar.
E tal qual as mãos, os corpos se juntam
Num entrelaçar, que seria impossível separar................
E os minutos passam num arrepiar,
11 minutos? Não deram pelo tempo passar.....
Entre tormentas, acalmias, turbilhões, sensações supremas,
sem limites nem condições, entre risos, olhares,
fluxos que a jorros dos seus corpos brotam,
em contínuo, sem parar …11 horas acabam por passar
O cansaço os corpos invade, mas não limita o desejo
Adormecem um no outro,
Num entrelaçar, que seria impossível separar
11 Minutos, disse alguém? Alguém me pode explicar?



Miguel Martins




sábado, 21 de outubro de 2017

Se os Poetas Dessem as Mãos

  


Se os Poetas dessem as mãos e fechassem o Mundo no grande abraço da Poesia, cairiam as grades das prisões que nos tolhem os passos, os arames farpados que nos rasgam os sonhos, os muros de silêncio, as muralhas da cólera e do ódio, as barreiras do medo, e o Dia, como um pássaro liberto, desdobraria enfim as asas sobre a Noite dos homens. 
Se os Poetas dessem as mãos e fechassem o Mundo, no grande abraço da Poesia. 


Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"




quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Almas em Contramão



Que maculam os primórdios
Da sua génese e constelação
Afundam velas e veleiros
Caçoam do bem que as sustém
Do divino reflexo que as alumia

Com requinte estilhaçam o braço que as
abalança no frágil arame do seu equilíbrio
Meteoros perdidos na espiral da vida
Moldam ódios, geram penas, destilam ácido
Que corrói as correntes que as elevam

Sentam-se no trono do efémero mundi_ser
Assente nos escombros sem causa
Desnecessários, que cultivam pelo prazer
De se sentirem autores de seus infernos
Rotas, em desafio a Deus


Nina




Vinicius nasceu há 104 anos - Parabéns Poeta

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Adorava



Adorava estar contigo
Num castelo muito antigo
Deixando correr boatos
De fantasmas e guerreiros
Abraçados com ternura
E num castelo algures sombrio
Levar o sol dos teus olhos
E o calor das nossas mãos
Para uma posteridade histórica
Enquanto
Fadas e duendes espreitam pelas ameias


Manuela Graça, a nossa pintora/poeta

domingo, 15 de outubro de 2017

AZUL




AZUL

Eu bebo o azul 
Como quem saboreia 
as chuvas de verão
e vou no voo sereno das gaivotas…
A minha humanidade
é igual à humanidade dos outros
Talvez mais sofrida
talvez mais aguda 
Mas somos todos irmãos
Somos todos gaivotas
E ondas 
E mar 
E sargaços
E dor 
E silêncio 
Somos todos silêncio 
E caminhamos 
Descalços
No fio da navalha
Em busca do azul… 


A. Alves Cardoso 


sábado, 14 de outubro de 2017

As Palavras




As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade 

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Alma Serena




Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Terra Exerce a sua Justiça (basta olhar o que se passa no mundo)





Memória da Terra


Não precisamos contemplar a chuva
Inverteram-se as posições
Agora é ela que nos contempla

Ergueram-se os olhos da terra

Que de cima verte sobre nós
O pranto ora cascateado ora intenso
De gotas transbordantes de pena

Das penas que colhem dos homens
Que laboram impregnados de ais
E amam, em leitos secos de amor

Dividem a terra em quarteirões
Torturam seu rosto com arame farpado
Carimbam papéis…a que chamam seus quinhões

As lágrimas abrandam pra seus olhos clarearem

Ela precisa ver com mais nitidez os insanos seres
Que constroem com orgulho suas prisões 
Onde se barricam com medos e provisões

Assentam sua história em quantos guerrearam
E os que mais matam…tornam-se heróis
A terra exerce sua justiça

Pela água, sua memória 
Pelo fogo, sua indignação


A.




segunda-feira, 9 de outubro de 2017

E foi sim!




Uma manhã cheia, que imprimiu na alma dos presentes a linguagem do amor e da autenticidade que é a Poesia.
Que nos recordou quem somos e o poder da nossa Visão quando a ela nos entregamos.
Uma homenagem a alguns dos maiores "visionários" da nossa história e de quanto essas visões nos indicam que, está na hora!
Poetas Vivó`s Poetas agradece todas as expressões poéticas e principalmente à Fátima Araújo pela dádiva que é sempre ouvir este poema na sua maravilhosa voz (algum dia, Fatinha, havemos de conseguir forma de gravá-lo sem ruídos, e com a qualidade que a tua voz merece, e o poema também)


Poesia rima com Gratidão - Até sempre


terça-feira, 3 de outubro de 2017

Arte e Poesia no contexto Visionário


Lembramos que já está a decorrer a exposição da pintora Manuela Graça cujas obras absorvem a nossa imaginação e ampliam a nossa Visão.

Lembramos ainda que no próximo domingo às 10h  celebraremos o término da exposição com muita e boa Poesia que pelas vozes expressa, a dimensão de cada coração


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Aprender o alfabeto do bem-querer






Aprender o alfabeto do bem-querer

Ver a minha janela da janela d`outro ser
Como quem abre os braços ao presente
Que o passado cumulou de tanto saber
Tesouro guardado nas grutas do tempo
Bálsamo precioso, frutuoso, fecundo

Aprender o alfabeto do bem-querer

No pretérito perfeito do verbo amar
Razão e coração aprendem a rimar
Estrofes nunca antes conjugadas
Vida, ausência, luz, senda, poema
Que é preciso saber declamar

Como é bom, aprender o alfabeto do bem-querer


A.





domingo, 1 de outubro de 2017

Dia Mundial da Música - Homenagem aos músicos de todos os tempos



Música e Poesia

Música e Poesia são irmanadas num só tom,
o sincopado do coração

Poesia, tem muito mais a ver 
com música que com escrita

Música, é o próprio som do
eterno que nos embala

Poesia, é a radiância cósmica que
se expressa em hieróglifos cíclicos

Música , é a ressonância dos muitos risos  de Deus
Poesia é amor incontido, fluido, que o coração deixa escapar

Poesia e Música, são verso entoado, 
pauta sem tempo, na contra-dança do Céu


Maria Adelina