sexta-feira, 29 de agosto de 2014



                                       ESPERA


        As camélias já floriram e tu não vieste.
        Entardeceste no tempo. Pousaste um passado, que era nosso, na memória dos dias, e não vieste. Silenciaste as palavras, os sonhos, a ternura. Viveste um tempo teu, sem laços, sem prisões. E envelheceste.

        Porquê tanta amargura?

        Encosto-me à vidraça e sonho. Chegam de volta os dias, a ternura, as manhãs claras.Tocam-me os teus dedos; prendem-me os teus braços; esmaga-me o teu corpo.E eu sou de novo a tua menina; sinto de novo a minha fragilidade. Sinto de novo a tua força; volto a ser pequenina ao pé de ti.Aconchego os sonhos na tua presença terna e arrebatadora.O teu colinho embala-me e traz-me tudo. Faz-me parar no tempo. Ser pequenina. Numa acalmia doce, inventada.
        As camélias envelheceram e tu não vieste.
        Entardeceste no tempo.

        Porquê tanto azedume?

        Deixo a vidraça. Solto a força do meu grito. Quero apagar os sonhos, desamar. Quero clarear a noite, a noite da tua ausência; mas não amanheço. Faltam-me os gestos de ternura, o alento, a força da tua presença.
        Encosto-me de novo à vidraça. Numa espera longa, sem um gesto.

        Porquê tanta distância?

        As camélias já caíram e tu não vieste.
        Envelheceste no tempo, e eu à espera. À espera de ser de novo a tua menina.


       
                               Maria Aida Araújo Duarte