segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A MAGIA DA FLOR








ESVOAÇO como a brisa da tarde
por entre os malmequeres dos campos.
Sem querer, vai para  ti o meu pensamento
ao som dos murmúrios dos milhos, do vento
que embala os pinhais de extensa verdura.

Minhas mãos procuram tuas mãos
e agarram com alma os malmequeres.
Digo por dizer o que aprendi:
«bem-me-quer, mal-me-quer»,pensando em ti,
cada pétala uma a uma desfolhando,
vegetais da cor do Sol sacrificando.

A flor vai dizendo o que quero que diga
e com ela alimento a magia, a loucura,
o sonho, a esperança e a ternura
de bem me quereres estejas tu onde estiveres.

E pela tarde minhas mãos repetem, continuam,
com saudades brancas de coisa nenhuma,
por entre os campos desfolhando os malmequeres.

FINA D' ARMADA




segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Há 92 anos ... nasceu Eugénio de Andrade

PARABÉNS  e Gratidão profunda pela Obra deixada




Até Amanhã
Sei agora como nasceu a alegria, 
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias. 

Eugénio de Andrade (1923-2005)

domingo, 18 de janeiro de 2015

Neste dia de inverno ... um Abraço quentinho

   
Abraça-me


Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos. 
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes. 
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais. 
Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O TEU RISO






Tira-me o pão, se quiseres, 
tira-me o ar, mas 
não me tires o teu riso. 

Não me tires a rosa, 
a flor de espiga que desfias, 
a água que de súbito 
jorra na tua alegria, 
a repentina onda 
de prata que em ti nasce. 

A minha luta é dura e regresso 
por vezes com os olhos 
cansados de terem visto 
a terra que não muda, 
mas quando o teu riso entra 
sobe ao céu à minha procura 
e abre-me todas 
as portas da vida. 

Meu amor, na hora 
mais obscura desfia 
o teu riso, e se de súbito 
vires que o meu sangue mancha 
as pedras da rua, 
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos 
como uma espada fresca. 

Perto do mar no outono, 
o teu riso deve erguer 
a sua cascata de espuma, 
e na primavera, amor, 
quero o teu riso como 
a flor que eu esperava, 
a flor azul, a rosa 
da minha pátria sonora. 

Ri-te da noite, 
do dia, da lua, 
ri-te das ruas 
curvas da ilha, 
ri-te deste rapaz 
desajeitado que te ama, 
mas quando abro 
os olhos e os fecho, 
quando os meus passos se forem, 
quando os meus passos voltarem, 
nega-me o pão, o ar, 
a luz, a primavera, 
mas o teu riso nunca 
porque sem ele morreria. 

PABLO NERUDA

domingo, 11 de janeiro de 2015

Depois desta manha de Poesia não poderia deixar de publicar este magnifico texto

É tão simples...! O sol...apenas e só...(L).

«As mulheres são como as plantas, precisam de sol. Mas as mulheres são vivas por dentro e vivas por fora, precisam de sol no corpo e de sol no coração. Quando as iluminamos só por fora, ficam viçosas de pele mas desabitadas. Quando as iluminamos só por dentro, as flores brotam no seu interior mas sufocam o seu perfume. As mulheres só são felizes quando alguém as abraça com um sol em cada mão!»

Mia Couto

domingo, 4 de janeiro de 2015


















"Porquê deixar a poesia para aqueles que a escrevem? Ser poeta é, em primeiro lugar, criar a poesia na sua própria vida, esforçando-se por introduzir nela a pureza, a luz, o amor, a alegria. É essa poesia que há necessidade de sentir, de respirar, nas criaturas, algo que harmoniza, que vivifica…
A verdadeira poesia é inseparável da vida. Então, procurai tornar-vos cada vez mais vivos. É tão agradável encontrar criaturas nas quais se sente que tudo é caloroso, que tudo está animado, iluminado! Gosta-se de uma árvore porque ela dá frutos, gosta-se de uma fonte porque a água jorra cantando, gosta-se das flores por causa das suas cores e dos seus perfumes… Do mesmo modo, gosta-se das criaturas que se abrem para dar algo que é límpido, luminoso, perfumado, melodioso. Aprendei a cultivar em vós esse estado de jorro, de irradiação. Habituai-vos a arrancar do vosso coração algumas partículas vivas para as enviar aos outros… e sabereis o que é viver na poesia…"
                                    
Edições Prosveta – Pensamentos Quotidianos