sábado, 6 de janeiro de 2018

UMA VELA NA VIDRAÇA



A pequenez de uma vela
por de trás de uma janela,
despendendo frouxa luz
amarela,
é um convite,
um chamamento
a quem passa na viela
e sonha com o clarão dos Magos
— a tal estrela —
e vê nela,
não na estrela, mas
na pálida chama amarela
a tremelicar na janela,
uma réstia de esperança:

Talvez abrigo,
o conforto de um chão morno,
o agasalho de uma telha.

Talvez comida,
um naco de pão bendito,
a sopa a fumegar na panela.

Talvez alguém,
um irmão,
uma palavra,
um ombro ou um abraço.

Talvez, quem sabe,
sim, quem sabe,
o recomeçar de uma vida?

A humildade de uma vela
a rebrilhar à janela
não é de cera,
é de ouro,
é uma riqueza,
é um tesouro,
vale mais que a tal estrela.

Uma vela na vidraça
é uma promessa a quem passa.



Miguel Leitão

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