sábado, 8 de abril de 2017

SE EU FOSSE





SE EU FOSSE

Se eu fosse
Dono desse sorriso travesso,
Se eu fosse
O grito do silêncio em garganta rouca…

Se eu fosse
Poema que não morre e corre ao vento,
A todo o tempo conheceria as idades
De meu corpo e de minha alma.

Se eu fosse
Paisagem alagada de sol,
A cada madrugada sucederia novo dia.

Se eu fosse
Vaporoso fantasma de diáfana palidez,
Apagaria as chamas
Do olhar com que me chamas.

Se eu fosse
Quimera dolorosa,
Sentiria renascer a paixão da mocidade.

Se eu fosse
Só e voasse como pássaro perdido,
Saberia que, depois da perda,
Se escutam vozes que se calaram.

Se eu fosse
Como a borboleta
Que levita de flor em flor…

Se eu fosse
Porto sem barcos sem água
Sem docas nem gaivotas…

Se eu fosse Prometeu
Que ambicionou o fogo do céu…

Se eu fosse
Feiticeiro e alquimista,
Não queria tanta gente a chorar,
Nem que lhe restasse só a solidão.
As lágrimas também padecem.



João Coelho dos Santos

Do 35º livro – FINITO INFINITO


3 comentários:

Unknown disse...

João, parabéns por este poema, e pela imensa obra poética que é a tua vida e o teu legado literário.

Unknown disse...

Se eu fosse a saudade te traria para perto de mim.

Unknown disse...

Bem-vinda ao nosso cantinho de poesia, amiga antiga