terça-feira, 5 de julho de 2016





DESCOBERTA

O relógio da Sé, na contraluz,
Marcava o destino e a hora da partida
Nas águas do Tejo reflectia-se a luz
E o velame dos barcos que estavam de saída…

Na margem os que ficavam e partiam
Davam ao céu mui altos gritos
Como pombas doloridas que se iam
Pelos vastos horizontes infinitos…

O rei ergueu as mãos por sobre o rosto
E todos se curvaram
E depois disse - «Ide! Deus seja convosco!»
E as naus ao mar se aventuraram…

E depois o mar abriu-se em ilhas
Em portos, enseadas e tormentos
Em coisas nunca vistas, maravilhas
Em dores agrestes e duros sofrimentos

E o relógio da Sé marcava as horas
Os sucessos, as partidas, as chegadas
Os naufrágios, as mortes, as demoras
E a dor das almas enlutadas

E foi assim que o mundo se alargou
Pelo sopro criador das velas lusas
Foi este o mundo que o Português criou
Sem o auxílio de deuses nem de musas…


A. Alves Cardoso 

3 comentários:

Cecília Pires disse...

Poema magnífico! Sobre a gesta marítima! Com ritmo, com encadeamento, e muito bem estruturado. Muitos parabéns ao autor!

Maria Adelina Lopes disse...

Uma viagem no tempo, a um tempo marcante da nossa História. Muito bom.

Unknown disse...

São vozes de outras épocas e de muitos lugares. Talvez com o auxílio de deuses e de musas...