quinta-feira, 10 de maio de 2018

ABRIGOS - (Ciclo Anabela Coelho)




ABRIGOS

Há braços que são árvores
Há árvores que são braços
Onde as aves sossegam o trémulo olhar de lágrimas
E repousam dos cansaços
São abrigos.
São mãos a florir, mesmo que a primavera demore.
Há árvores cheias de frutos e caminham
Raízes que ninguém ungiu
Meditam em silêncio
E fingem não ter medo da noite, das ventanias, dos lobos.
São árvores que se curvam ao choro das tempestades
Choram lágrimas surdas quando a penumbra se abre
Quando a solidão pela noite fora as perfura a golpe de sabre.
Só elas recolhem as aves onde se perderam
E o menino flecheiro que dormiu sobre o arbusto
E são espelhos a reflectirem a abundância do sol
Que vem do centro, da seiva, do peito.
Há árvores que se agitam, riem e cantam
São pérolas translúcidas, abertas de claridade
O âmbar é o riso que lhes emoldura o rosto
O riso é o âmbar que lhes dá eternidade.


Anabela Coelho
(distinguido na 1ª edição do Concurso de Poesia - Casa da Cultura de Loulé )


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