O
MENINO DA SUA MÃE
No
plaino abandonado
Que
a morna brisa aquece,
De
balas trespassado
—
Duas, de lado a lado —,
Jaz
morto, e arrefece.
Raia-lhe
a farda o sangue.
De
braços estendidos,
Alvo,
louro, exangue,
Fita
com olhar langue
E
cego os céus perdidos.
Tão
jovem! que jovem era!
(Agora
que idade tem?)
Filho
único, a mãe lhe dera
Um
nome e o mantivera:
«O
menino da sua mãe».
Caiu-lhe
da algibeira
A
cigarreira breve.
Dera-lha
a mãe. Está inteira
E
boa a cigarreira.
Ele
é que já não serve.
De
outra algibeira, alada
Ponta
a roçar o solo,
A
brancura embainhada
De
um lenço... Deu-lho a criada
Velha
que o trouxe ao colo.
Lá
longe, em casa, há a prece:
«Que
volte cedo, e bem!»
(Malhas
que o Império tece!)
Jaz
morto, e apodrece,
O
menino da sua mãe.
Fernando
Pessoa
3 comentários:
Quem se lembrou de nos embalar com este Poema tão profundo?!
Tenho-o no meu relicário da saudade… Grata!
Tão sublime no seu dramatismo. Sempre Pessoa. Grata pela partilha Cecília Pires
Um poema muito bonito, que permite uma dupla interpretação: uma mais literal, outra mais relacionada com a vivência pessoal do poeta, que muito cedo perde o pai e vê a mãe casar em segundas núpcias, mudar de país e ter um outro filho. O soldado morto na guerra, aqui magnificamente cantado pelo poeta, pode muito bem personificar o próprio poeta, que vê na Infância (até aos seus cinco anos) uma idade perfeita e feliz, um paraíso perdido e irrecuperável... Também ele ficaria para sempre O menino de sua mãe.
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