QUAL
DE NÓS MORREU MAIS VEZES?
Qual
de nós morreu mais vezes?
Seguramente
tu,
que
eu sempre estive morto…
Morri
de vez
quando
o sonho se esfacelou
naquela
tarde de um outono antigo
quando
a faca se enterrou
na
carne tenra e pura do meu corpo
e
atingiu a veia jugular da alma...
Não
ressuscitei ao terceiro dia
e
jazo agora envolto no sudário da solidão
que
envolve todos os meus ossos…
Morri,
pois, apenas uma vez
e
o óbito da minha alma
há
de constar algures
nas
repartições de Estado,
que
as almas também morrem...
A.
Alves Cardoso
3 comentários:
Conheço-o da coletânea de poesia “Enigmas”. Sempre nos arredores da alma… E sabe que a alma não é um iceberg à deriva no azul, redondo, do céu! Parabéns!
A Alma é o passageiro perene de todas as vidas, imortal, tal como a força da vida que desabrocha sempre no mais árido dos solos. Belíssimo poema.
Viver não é a mesma coisa que estar vivo. Morre-se de muitas maneiras, de facto. Às vezes, morre-se um bocadinho todos os dias... Bonito poema!
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