domingo, 3 de julho de 2016





QUAL DE NÓS MORREU MAIS VEZES?

Qual de nós morreu mais vezes?

Seguramente tu,
que eu sempre estive morto…

Morri de vez
quando o sonho se esfacelou
naquela tarde de um outono antigo
quando a faca se enterrou
na carne tenra e pura do meu corpo
e atingiu a veia jugular da alma... 

Não ressuscitei ao terceiro dia
e jazo agora envolto no sudário da solidão
que envolve todos os meus ossos…

Morri, pois, apenas uma vez
e o óbito da minha alma
há de constar algures
nas repartições de Estado,
que as almas também morrem...

A. Alves Cardoso 

3 comentários:

Unknown disse...

Conheço-o da coletânea de poesia “Enigmas”. Sempre nos arredores da alma… E sabe que a alma não é um iceberg à deriva no azul, redondo, do céu! Parabéns!



Maria Adelina Lopes disse...

A Alma é o passageiro perene de todas as vidas, imortal, tal como a força da vida que desabrocha sempre no mais árido dos solos. Belíssimo poema.

cecília Pires disse...

Viver não é a mesma coisa que estar vivo. Morre-se de muitas maneiras, de facto. Às vezes, morre-se um bocadinho todos os dias... Bonito poema!