MENINO
DO ARCO
E vínhamos
vindo, do alto das manhãs,
por
entre as brumas, como um bando de petizes,
ainda
imberbes, ainda de calções,
com
lágrimas nos olhos, infelizes...
Fomos
arrancados ao seio protetor das nossas mães
ao solo
onde nascemos, onde era o ninho,
e como
árvores sacudidos pelos ventos
fomos
atirados ao destino...
Uma mãe
chorosa, limpando as lágrimas junto à porta,
também
ela infeliz e destroçada
como se
lhe arrancassem o coração em sangue
pela
espada...
Mas o
homem é feito de lava, dos vulcões,
de
tempestades, de angústias e cansaços,
peito
aberto ao futuro e ao que vier
e à
infinita dimensão dos nossos braços...
Lá
longe, a mãe, por entre a névoa,
do
silêncio esmagador e da solidão atroz,
olhava
os loges, esperando,
e quem
vinha chegando não era nenhum de nós...
E entre
o som e a fúria, entre a dor e a solidão,
de novo
transplantados, demos frutos
e
brotamos do solo à clara luz do dia
mais
fortes, mais seguros, mais ágeis, mais astutos...
E
caminhamos sempre em frente sem nunca nos determos
que a
jornada ainda agora começara
e fomos
soletrando letra a letra o que sonhamos
e indo
mais longe, se mais longe houvera...
E
ninguém conseguiu deter a marcha
destes
frágeis seres arrancados à infância
e hoje
estamos por aí mais fortes do que dantes
espalhados
como sementes de ouro na distância...
E
olhando para trás, de regresso ao tempo primitivo e puro
ao
tempo em que o tempo era primevo
não
deixamos de ser ainda um bando de petizes
é certo
que mais velhos, não renego
Mas o
homem é feito destes sonhos
desta
luz e sol, desta nunca finda caminhada,
e por
isso vamos por aí soltos no vento,
que à
nossa frente ainda há muita estrada...
A. Alves Cardoso
4 comentários:
Quando a vida se faz poema...
Muito bonito!
Bravo|
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