quinta-feira, 10 de novembro de 2016





DESCONCERTO

Sentado às portas de mundo
voo nas asas do tempo!...
Em cada canto sinto as chuvas
rijas de indiferença, que gelam
no rosto de crianças famintas
a implorar uma réstia de humanidade
ao mundo cobarde e mesquinho,
que oferece as mãos cheias de nada!...

Respira-se o aroma da juventude,
reivindicando ao mundo
o direito e a dignidade de ser gente.
A cada pegada, seca-se-lhe a esperança
com gritos de desilusão!...
Quase elegem a corrupção como sua mensageira,
ervas daninhas que contaminam as
mentes sonhadoras.

Nas teias do desalento,
sopram ventos maléficos
que cruzam olhares sem brilho;
na melancolia, mordem-se com
beijos ávidos de fel e mágoa.
Instintos que vertem prazeres
disfarçados que enfadam.

Famílias que desabam ruidosamente pela raiz,
entes que semeiam crimes hediondos,
que arrepiam, nos sufocam e nos interrogam.

No desconcerto de horizontes vazios
encontram-se, na estrada do silêncio,
idosos, almas vestidas de luto,
gente de mãos trémulas,
mestres de experiência e sabedoria,
que vivem como fardos!...

No esquecimento, brotam labaredas
de sofrimento que explodem como vulcões
Eis o desconcerto!


Álvaro Lima

5 comentários:

Unknown disse...

Um retrato fiel do desconcerto do mundo...dar as mãos, unir vontades, vamos virar o mundo? Grata pela reflexão.

Unknown disse...

Muito bonito! " O poema é, no fim, um mundo-à-disposição, um mundo-despertador" Antero Costa Urbano

Cecília Pires disse...

O que acontece diariamente no mundo deixa-nos por vezes perplexos e desconcertados também por dentro, mas felizmente há ainda pessoas sensíveis e atentas que não se conformam com tanto desconcerto, nem se resignam ao silêncio. Sinto neste poema, mais do que um retrato da realidade, um apelo, um grito de fé e de esperança, ainda, na Humanidade... Parabéns ao autor.

Cecília Pires disse...

Também Gosto da imagem. felizmente o mundo é redondo. Não é fácil, eu sei, mas todos unidos poderemos empurrá-lo, nem que seja devagarinho, para o eixo certo. Consertá-lo, no fundo. Disseram-me uma vez que todos temos a capacidade de mudar o mundo e que o segredo é começar por pequenos gestos e pelos que nos estão mais próximos. Eu acho que, antes mesmo disso, o segredo é começarmos por nós próprios. Como? Semeando pequenos gestos de amor, que, como o pão, fermentarão no calor do desconcerto que grassa e servirão de alimento às almas famintas...

Unknown disse...

Sim, o desconcerto. Um poema bem concertado. É isso mesmo. No esquecimento bóiam labaredas de sofrimento. Mas o poeta nunca esquece. É esse o seu fardo.