DESCONCERTO
Sentado
às portas de mundo
voo
nas asas do tempo!...
Em
cada canto sinto as chuvas
rijas
de indiferença, que gelam
no
rosto de crianças famintas
a
implorar uma réstia de humanidade
ao
mundo cobarde e mesquinho,
que
oferece as mãos cheias de nada!...
Respira-se
o aroma da juventude,
reivindicando
ao mundo
o
direito e a dignidade de ser gente.
A
cada pegada, seca-se-lhe a esperança
com
gritos de desilusão!...
Quase
elegem a corrupção como sua mensageira,
ervas
daninhas que contaminam as
mentes
sonhadoras.
Nas
teias do desalento,
sopram
ventos maléficos
que
cruzam olhares sem brilho;
na
melancolia, mordem-se com
beijos
ávidos de fel e mágoa.
Instintos
que vertem prazeres
disfarçados
que enfadam.
Famílias
que desabam ruidosamente pela raiz,
entes
que semeiam crimes hediondos,
que
arrepiam, nos sufocam e nos interrogam.
No
desconcerto de horizontes vazios
encontram-se,
na estrada do silêncio,
idosos,
almas vestidas de luto,
gente
de mãos trémulas,
mestres
de experiência e sabedoria,
que
vivem como fardos!...
No
esquecimento, brotam labaredas
de
sofrimento que explodem como vulcões
Eis
o desconcerto!
Álvaro
Lima
5 comentários:
Um retrato fiel do desconcerto do mundo...dar as mãos, unir vontades, vamos virar o mundo? Grata pela reflexão.
Muito bonito! " O poema é, no fim, um mundo-à-disposição, um mundo-despertador" Antero Costa Urbano
O que acontece diariamente no mundo deixa-nos por vezes perplexos e desconcertados também por dentro, mas felizmente há ainda pessoas sensíveis e atentas que não se conformam com tanto desconcerto, nem se resignam ao silêncio. Sinto neste poema, mais do que um retrato da realidade, um apelo, um grito de fé e de esperança, ainda, na Humanidade... Parabéns ao autor.
Também Gosto da imagem. felizmente o mundo é redondo. Não é fácil, eu sei, mas todos unidos poderemos empurrá-lo, nem que seja devagarinho, para o eixo certo. Consertá-lo, no fundo. Disseram-me uma vez que todos temos a capacidade de mudar o mundo e que o segredo é começar por pequenos gestos e pelos que nos estão mais próximos. Eu acho que, antes mesmo disso, o segredo é começarmos por nós próprios. Como? Semeando pequenos gestos de amor, que, como o pão, fermentarão no calor do desconcerto que grassa e servirão de alimento às almas famintas...
Sim, o desconcerto. Um poema bem concertado. É isso mesmo. No esquecimento bóiam labaredas de sofrimento. Mas o poeta nunca esquece. É esse o seu fardo.
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