sábado, 3 de setembro de 2016





CREDO

Eu creio em duendes
Em fadas e em anjos, demónios,
E creio até em milagres
Como uma rosa a florir

Creio nos astros, nos Deuses,
Nas forças que me correm nas veias,
Nos sonhos que de noite me assaltam
Vozes vindas, algures, do Além…

Creio nos Atlantes de Natália Correia
No lado oculto das coisas
Nos mundos invisíveis
Que a imaginação descobre
No vento que sopra e que passa

Creio nas rútilas cores que me pintam
Nas luzes e sombras que cercam as minhas palavras
No arco-íris que me agarra por dentro
No regaço maternal dos teus braços.

Creio, vejam bem, em bruxas e ninfas
E consigo até ajoelhar-me em igrejas
Na bafienta penumbra dos altares e retábulos
Nos salmos que ecoam por dentro dos claustros…

Creio ser um viajante contínuo
Por entre a multidão solitária
Atado a cilícios de sangue
Guiado pelo caminho da busca…

Creio no teu corpo faminto
No teu corpo aberto
Como um oásis com tâmaras e água  
E uma casa onde dormir
Nos cansaços…

Creio até que Deus talvez nem exista
Que o corpo se resumirá à mortalha
Mas vou em frente, denodado, forte,
Armado com a força da busca…

Creio enfim no homem
No seu destino e caminho
No sangue que os pés, caminhando,
Vão deixando ao longo da estrada,
Mesmo que tudo seja ilusão e quimera…

A. Alves Cardoso 


4 comentários:

Unknown disse...

Muito, muito bonito!

Anónimo disse...

Bonito Credo, poema com traços da realidade cada vez mais atual.

Cecília Pires disse...

Bonito poema! Quando tudo parece desmoronar-se, ainda é possível acreditar. Num tempo de descrença generalizada, em que os horizontes parecem cada vez mais curtos, aqui fica esta bonita mensagem de fé e de esperança.

Maria Adelina Lopes disse...

Um vitral onde a luz não desiste neste ocaso civilizacional. Crer é realmente poder, façamos acontecer os nossos credos.