segunda-feira, 20 de junho de 2016



LÁGRIMA

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto                  
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto.
                          
Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo.

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer.

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar.


  Amália Rodrigues



3 comentários:

Unknown disse...

A rainha do fado cantou o seu próprio poema. Nostálgico, quase uma oração! Palmas, sempre.

Cecília Pires disse...

Tão lindo e profundo! Amália sempre! Fado sempre!

Maria Adelina Lopes disse...

Amália, tão inteira na sua diversidade, maravilhosa em todas as suas facetas, até na de autora que muita gente desconhece. Obrigada Anabela pela sugestão, outras serão sempre bem-vindas.