PELA
MINHA MÃO
Se me
pedisses para pintar o verão
Verias um
sol em mãos douradas sobre as searas
E nos
montes cordeiros brancos, soltos
Olharias
o mar a elevar-se à distância
E um
arado lavrando na espuma
Seria
violácea a sua voz húmida
E mais
plácidos os cânticos
E os
apelos das sereias
Não
faltaria o luar no abraço de silêncio
Velando a
ventura noturna
No seu
brocado de rebeldia
E as
crianças no seu dom de serem leves
Saltando
de sonho em sonho
Nos
ladrilhos cintilantes, soletrando o dia
Haveria
um calendário de sílabas brancas
A
repetir-se em gestos ledos em agosto
Sempre em
agosto
A dourar
os cabelos
E as
maçãs do rosto
Soltaria,
no céu da manhã, todas as aves
E os seus
cantos
E flocos
de neve e de nuvens vestindo anjos
E tiaras
de margaridas brancas, brancas
Agitando-se
em sublime sentinela
Um
arco-íris riscando o céu
A beber
nos teus olhos um arroio de cores
E eu
seria um barco
Um lenço
de prata no convés
Talvez um
rio, talvez uma fonte
Um fio de
água orvalhando-te os pés…
Se me
pedisses para pintar o verão
Acrescentava
o que lhe falta
O olhar
que trago por dentro
O pouco
que tenho, o pouco que me resta
Desprenderia
as flores do meu vestido
Das
nossas bocas os risos
E os
versos
E o
verão, meu amor, era uma festa!
Anabela Coelho
3 comentários:
Bonito, imaginação fértil, que o teu sol brilhe sempre na tua poesia.
Muito bonito e de grande profundidade poética! Parabéns! Uma alma que respira e transpira poesia. Uma verdadeira inspiração.
Festa é também esta eira de palavras à escolha, luzeiros de todas as cores, doces de tantos sabores, sentires de tantos matizes.
Obrigada
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