segunda-feira, 21 de maio de 2018

NAS MÃOS DO VENTO - (Ciclo António A. Cardoso)



Sou nas mãos do vento o que quiseres
o frágil ramo torcido, a erva trucidada
por pesadas patas, os malmequeres
desfolhados pela mão diabólica, pesada.

Sou um barco sem rumo nas procelas
um seixo branco rolando pelos rios
o xaile roto e preto das donzelas
a tapar os insuportáveis frios.

Sou o que for, tudo o possível,
pedreiro de mim próprio, e de paredes,
cauteleiro da sorte e do impossível,
tecedor de dúvidas, de angústias e de sedes…

Sou, no silêncio, uma certa ânsia
um vazio dos outros, um mar distante,
sempre à espera do longe e da distância
na busca efémera do instante…

Sou o que sou, tão vago, tão ausente,
tão cheio de sede e tão vazio!
No equilíbrio instável do presente,
Sou um barco parado em seco rio…


  António Alves Cardoso





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