Sabe o que a poesia faz ao seu Cérebro?
Por Jennifer Delgado Suárez
Poesia são dardos em forma de
palavras que vão directo para a parte mais emocional do nosso cérebro. Há
poemas que despertam um tsunami emotivo real e nos arrepiam, como “A Primeira
Elegia”, de Rainer Maria Rilke, cujos versos dizem:
“A beleza é
nada mais que o princípio do terrível,
Aquilo que somos apenas capazes de suportar,
Aquilo que admiramos porque serenamente deseja nos destruir,
Todo anjo é terrível. ”
Aquilo que somos apenas capazes de suportar,
Aquilo que admiramos porque serenamente deseja nos destruir,
Todo anjo é terrível. ”
Rilke descreveu o terror que sentimos
quando adquirimos um conhecimento mais amplo, o momento em que ficamos mais
conscientes de nossas limitações e da complexidade do mundo, e percebemos tudo
o que não entendemos, conscientes daquilo que nunca iremos compreender. É uma
possibilidade bela e sedutora, mas também muito assustadora.
A poesia tem a capacidade de enviar
poderosas mensagens emocionais e activar a reflexão, ainda que seja certo dizer
que o maior prazer que sentimos ao ler um poema, como quando desfrutamos de uma
obra de arte, não provém de uma reflexão profunda, mas de sensações que nós
experimentamos. Na verdade, Vladimir Nabokov disse que não se deve ler com o
coração ou com o cérebro, mas com o corpo.
Pesquisadores do Instituto Max Planck
de Estética Empírica se propuseram a explorar mais a fundo as influências da
poesia em nosso cérebro, e os resultados de seu estudo são fascinantes.
A poesia gera mais prazer, a nível
cerebral, que a música.
Pesquisadores pediram a um grupo de
pessoas, alguns liam poesia com frequência, para ouvir poemas lidos em voz
alta. Alguns dos poemas pertenciam a conhecidos poetas alemães como Friedrich
Schiller, Theodor Fontane e Otto Ernst, apesar de que foi dada a opção para os
participantes escolherem algumas obras, incluindo autores como William
Shakespeare, Johann Wolfgang von Goethe, Friedrich Nietzsche, Edgar Allan Poe,
Paul Celan e Rilke.
Enquanto os voluntários escutavam os
poemas, os pesquisadores registravam o ritmo cardíaco, expressões faciais e até
mesmo os movimentos dos pelos sobre a pele. Além disso, quando as pessoas
sentiam um arrepio, elas eram instruídas a avisar, pressionando um botão.
Curiosamente, todas as pessoas, mesmo
aquelas que não tinham costume de ler poesia, relatavam calafrios em algum
momento durante e leitura, 40% sentiram arrepios várias vezes. Estas são
respostas similares àquelas que experimentamos quando escutamos música ou
assistimos a uma cena de um filme que gera grande ressonância emocional.
No entanto, as respostas neurológicas estimuladas pela poesia eram únicas. Os dados mostraram que ao tomar contacto com os poemas, partes do cérebro usualmente desactivadas quando expostas ao estímulo de filmes e música foram despertadas.
No entanto, as respostas neurológicas estimuladas pela poesia eram únicas. Os dados mostraram que ao tomar contacto com os poemas, partes do cérebro usualmente desactivadas quando expostas ao estímulo de filmes e música foram despertadas.
Os neurocientistas descobriram que a
poesia cria um estado que chamaram de “pré-relaxamento”; ou seja, que provoca
uma reacção de prazer gradativo a cada estrofe escutada. Na prática, ao invés
da emoção nos invadir repentinamente, como quando escutamos uma canção, a
poesia gera um crescendo emocional que começa até 4,5 segundos antes de
sentirmos o arrepio.
Curiosamente, esses picos emocionais
ocorriam especificamente em trechos dos versos, como no final das estrofes e,
acima de tudo, no final da poesia. É uma descoberta muito interessante,
especialmente considerando-se que 77% dos participantes que nunca tinha
escutado um poema também mostraram as mesmas reacções e sinais neurológicos que
antecipavam os focos emocionais da leitura.
A poesia estimula a memória, facilita
a introspecção e nos relaxa.
Neurocientistas da Universidade de
Exeter escanearam os cérebros de um grupo de participantes enquanto liam
conteúdos diferentes, desde um manual de instalação de ar-condicionado,
passando por diálogos de novela, até sonetos e poemas.
Estes pesquisadores descobriram que o
nosso cérebro processa a poesia de forma diferente que a prosa. É activada uma
“rede de leitura” peculiar que abraça diferentes áreas, entre elas, aquelas responsáveis
pelo processamento emocional, activadas fundamentalmente pela música.
Eles também perceberam que a poesia
estimula áreas do cérebro associadas com a memória, como o córtex cingulado
posterior e o lobo temporal médio, áreas que são despertadas quando estamos
relaxados, ou introspectivos.
Isto demonstra que existe algo muito
especial na estrutura do texto poético que gera prazer. Na verdade, a poesia é
uma expressão literária muito especial que transmite sentimentos, pensamentos e
ideias, praticando síntese métrica, trabalhando rimas e aliteração.
Portanto, é óptimo para o nosso
cérebro inserir um poema por dia em nossa rotina.
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