terça-feira, 11 de julho de 2017

Leiam com os olhos, mas, sintam com a Alma





Partilhamos um dos poemas mais belos e interessantes lidos até hoje. No seu profundo conhecimento da alma feminina, comparo Mia Couto a  Léon Tolstoi. 




A CASA

Confesso:
Quando a olhei
eu apenas queria,
em sua boca,
a água onde começa a vida.
E fui num murmúrio:
preciso do teu fogo
para não morrer.
Ela, então,
sussurrou o convite:
vem a minha casa.
No caminho,
porém,
recusou meu braço,
esfriou o meu alento.
E corrigiu-me assim o intento:
não te quero corpo,
nem quero o fogo do leito,
nem o frio do adeus.
Suave murmurou:
levo-te,
homem,
a minha casa
para aprenderes a ser mulher.
Que nenhum outro fim
a casa tem.

Mia Couto



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