domingo, 30 de julho de 2017
sábado, 29 de julho de 2017
Homem de joelho no chão
Homem de joelho no chão
Desfralda as velas usadas
Que te embaraçam a alma
Reforça tuas asas
Ensaia as sendas da paz
Navega em terra ou no mar
Enxada na mão a semear teu pão
Que as rugas mais vincadas do teu rosto
Não sejam dos anos mas beijos de luar
Quando na noite mais profunda
Procuras refúgio em colo aberto
E ambas lágrimas num só caudal,
Formam lagos de sal
Reza, reza por ti
Nina
sexta-feira, 28 de julho de 2017
Escreva a sua história - Pedro Bial
Escreva a sua história na areia da praia,
Para que as ondas a levem através dos 7 mares;
Ate tornar-se lenda na boca de estrelas cadentes.
Para que as ondas a levem através dos 7 mares;
Ate tornar-se lenda na boca de estrelas cadentes.
Conte a sua história ao vento,
Cante aos mares para os muitos marujos;
Cujos olhos são faróis sujos e sem brilho.
Cante aos mares para os muitos marujos;
Cujos olhos são faróis sujos e sem brilho.
Escreva no asfalto com sangue,
Grite bem alto a sua história antes que ela seja varrida na
Manha seguinte pelos garis.
Grite bem alto a sua história antes que ela seja varrida na
Manha seguinte pelos garis.
Abra o peito em direcção dos canhões,
Suba nos tanques de Pequim,
Derrube os muros de Berlim,
Destrua as cátedras de Paris.
Suba nos tanques de Pequim,
Derrube os muros de Berlim,
Destrua as cátedras de Paris.
Defenda a sua palavra,
A vida não vale nada se você não tem uma boa história pra contar.
A vida não vale nada se você não tem uma boa história pra contar.
Pedro Bial
quinta-feira, 27 de julho de 2017
Ode à Paz - Natália Correia
Ode
à Paz
Pela
verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História, deixa passar a Vida!
Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História, deixa passar a Vida!
Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"
quarta-feira, 26 de julho de 2017
O contorno da vida é o amor - Maria Assis
Hay amores tan grandiosos y sublimes
Que el pecho se vuelve exiguo para contenerlos
Son el contorno de la vida
Igualan la fuerza del mar
Ofuscan el brillo del sol
Dibujan auroras boreales
Generan manantiales en el desierto
Y esa agua gana vida, alas
Contorsiona obstáculos ineludibles
Recorre montañas inalcanzables
Y desagua como una brisa
De letras dibujadas a nanquim
Arrepio que dice estoy vivo,
suspiro en el corazón del amado
Maria Assis
Que el pecho se vuelve exiguo para contenerlos
Son el contorno de la vida
Igualan la fuerza del mar
Ofuscan el brillo del sol
Dibujan auroras boreales
Generan manantiales en el desierto
Y esa agua gana vida, alas
Contorsiona obstáculos ineludibles
Recorre montañas inalcanzables
Y desagua como una brisa
De letras dibujadas a nanquim
Arrepio que dice estoy vivo,
suspiro en el corazón del amado
Maria Assis
terça-feira, 25 de julho de 2017
O Caminho da Vida - Charles Chaplin
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.
Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Nossos conhecimentos fizeram-nos cépticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
Charles
Chaplin
segunda-feira, 24 de julho de 2017
Vendaval - Miguel Torga
Meu coração
quebrou.
Era um cedro perfeito;
Mas o vento da vida levantou,
E aquele prumo do céu caiu direito.
Nos bons tempos felizes
Em que ele batia, erguido,
Desde a rama às raízes
Era seiva e sentido.
Agora jaz no chão.
Palpita ainda, e tem
Vida de coração...
Mas não ama ninguém.
Miguel Torga, in 'Diário (1942)'
Era um cedro perfeito;
Mas o vento da vida levantou,
E aquele prumo do céu caiu direito.
Nos bons tempos felizes
Em que ele batia, erguido,
Desde a rama às raízes
Era seiva e sentido.
Agora jaz no chão.
Palpita ainda, e tem
Vida de coração...
Mas não ama ninguém.
Miguel Torga, in 'Diário (1942)'
domingo, 23 de julho de 2017
Cabra-Cega - Pedro Homem de Mello
À volta de incerto fogo
Brincaram as minhas mãos.
... E foi a vida o seu jogo!
Julguei possuir estrelas
Só por vê-las.
Ai! Como estrelas andaram
Misteriosas e distantes
As almas que me encantaram
Por instantes!
Em ritmo discreto, brando,
Fui brincando, fui brincando
Com o amor, com a vaidade...
— E a que sentimentos vãos
Fiquei devendo talvez
A minha felicidade!
Pedro Homem de Mello, in "Jardins Suspensos"
Brincaram as minhas mãos.
... E foi a vida o seu jogo!
Julguei possuir estrelas
Só por vê-las.
Ai! Como estrelas andaram
Misteriosas e distantes
As almas que me encantaram
Por instantes!
Em ritmo discreto, brando,
Fui brincando, fui brincando
Com o amor, com a vaidade...
— E a que sentimentos vãos
Fiquei devendo talvez
A minha felicidade!
Pedro Homem de Mello, in "Jardins Suspensos"
sábado, 22 de julho de 2017
Vida Sempre - Casimiro de Brito
Entre a vida e a morte há apenas
o simples fenómeno
de uma subtil transformação. A morte
não é morte da vida.
A morte não é inacção, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura
prolongada
desde o porão do tempo. Projectando-se
nas naves inconcebíveis do futuro.
A morte não é morte da vida: apenas
novas formas de vida. Nova
utilidade. Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio
do pó) e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na máquina incomparável do universo.
Casimiro de Brito, in "Solidão Imperfeita"
o simples fenómeno
de uma subtil transformação. A morte
não é morte da vida.
A morte não é inacção, inutilidade.
A morte é apenas a face obscura,
mínima, em gestação
de uma viagem que não cessa de ser. Aventura
prolongada
desde o porão do tempo. Projectando-se
nas naves inconcebíveis do futuro.
A morte não é morte da vida: apenas
novas formas de vida. Nova
utilidade. Outro papel a desempenhar
no palco velocíssimo do mundo. Novo ser-se (comércio
do pó) e não se pertencer.
Nova claridade, respiração, naufrágio
na máquina incomparável do universo.
Casimiro de Brito, in "Solidão Imperfeita"
sexta-feira, 21 de julho de 2017
Poema para Iludir a Vida - Fernando Namora
Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paúl.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
[portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje
[o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paúl.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos
[portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje
[o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos
podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.
Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"
quinta-feira, 20 de julho de 2017
No Dia dos Amigos, e porque amizade é sinónimo de viver
Aos Amigos
Estou grata
Por
cada sorriso imaginado e cada lágrima não vertidaEstou grata
Por cada sonho embalado no coração resguardado
Por cada voto sentido, ainda que adormecido
Por cada Anjo da vida que nesta seara labuta
Alfaias singulares, da Consciência Divina
Que na nossa eira, semeiam e colhem
As imortais flores da amizade
Maria Adelina
A Vida - Nuno Júdice
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão; a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão; a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"
quarta-feira, 19 de julho de 2017
Pergunto-te Onde se Acha a Minha Vida -Cecília Meireles
Pergunto-te
onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.
Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.
E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.
Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.
Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída.
Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.
E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.
Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.
Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'
terça-feira, 18 de julho de 2017
Viver - Sónia Castro
Viver
Viver é
amar, sofrer, sonhar!
Aprender
a cada minuto
Saber
ganhar e perder
Lembrar
e tentar esquecer
Viver é
questionar cada momento
A
própria consciência
Ver
além dos olhos e com o coração
É
também insistência
Viver é
uma canção!
Dar
valor ao que se tem
Enquanto
se tem
É ser
alguém, e não ninguém.
Sonia
Castro/Do Livro Sensibilidade/Rio de Janeiro/Brasil
segunda-feira, 17 de julho de 2017
Deixai que a Vida sobre Vós Repouse - Jorge de Sena
Deixai que a vida sobre vós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse
erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.
Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.
Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,
a que é do tempo a ideada formosura,
a que se encontra se se não procura.
Jorge de Sena, in 'As Evidências'
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse
erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.
Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.
Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,
a que é do tempo a ideada formosura,
a que se encontra se se não procura.
Jorge de Sena, in 'As Evidências'
domingo, 16 de julho de 2017
Vida - Miguel Torga
Do que a vida ê capaz!
A força dum alento verdadeiro!
O que um dedal de seiva faz
A rasgar o seu negro cativeiro !
Ser!
Parece uma renúncia que ali vai,
— E é um carvalho a nascer
Da bolota que cai!
Miguel Torga, in 'Diário (1943)'
A força dum alento verdadeiro!
O que um dedal de seiva faz
A rasgar o seu negro cativeiro !
Ser!
Parece uma renúncia que ali vai,
— E é um carvalho a nascer
Da bolota que cai!
Miguel Torga, in 'Diário (1943)'
sábado, 15 de julho de 2017
Crepúsculo - Cília Diniz
Crepúsculo
Sinto-te no palpitar das horas
como corrente sanguínea
a invadir meu cérebro
a tempo inteiro.
Olho em redor
tanta beleza
em imagens loucas.
Abrando o passo.
À hora do crepúsculo
as sombras transfiguram-se
confundem-nos
todos os cuidados são poucos.
Sei, mas...
como corrente sanguínea
a invadir meu cérebro
a tempo inteiro.
Olho em redor
tanta beleza
em imagens loucas.
Abrando o passo.
À hora do crepúsculo
as sombras transfiguram-se
confundem-nos
todos os cuidados são poucos.
Sei, mas...
Não paro de tropeçar na tua ausência.
Cília Diniz
sexta-feira, 14 de julho de 2017
Vida - Agostinho da Silva
que não ser tolo decida
e venha deles primeiro
o de obediência à vida
será o segundo a vir
o de não querer ser rico
o muito passe de largo
o pouco lhe apure o bico
não violar-se a si próprio
como principal o veja
alto ou baixo gordo ou magro
assim nasceu assim seja.
Agostinho da Silva, in 'Poemas'
e venha deles primeiro
o de obediência à vida
será o segundo a vir
o de não querer ser rico
o muito passe de largo
o pouco lhe apure o bico
não violar-se a si próprio
como principal o veja
alto ou baixo gordo ou magro
assim nasceu assim seja.
Agostinho da Silva, in 'Poemas'
quinta-feira, 13 de julho de 2017
Os Anos são Degraus - Fernanda de Castro
Os anos são degraus, a Vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la,
pode abri-la.
São vários os degraus; alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais.
Alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.
Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.
Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da Estrada,
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
e mais nada?
Fernanda de Castro, in "Asa do Espaço"
terça-feira, 11 de julho de 2017
Leiam com os olhos, mas, sintam com a Alma
Partilhamos um dos
poemas mais belos e interessantes lidos até hoje. No seu profundo conhecimento
da alma feminina, comparo Mia Couto a
Léon Tolstoi.
A CASA
Confesso:
Quando a olhei
eu apenas queria,
em sua boca,
a água onde começa a vida.
Quando a olhei
eu apenas queria,
em sua boca,
a água onde começa a vida.
E fui num murmúrio:
preciso do teu fogo
para não morrer.
Ela, então,
sussurrou o convite:
vem a minha casa.
preciso do teu fogo
para não morrer.
Ela, então,
sussurrou o convite:
vem a minha casa.
No caminho,
porém,
recusou meu braço,
esfriou o meu alento.
E corrigiu-me assim o intento:
não te quero corpo,
nem quero o fogo do leito,
nem o frio do adeus.
porém,
recusou meu braço,
esfriou o meu alento.
E corrigiu-me assim o intento:
não te quero corpo,
nem quero o fogo do leito,
nem o frio do adeus.
Suave murmurou:
levo-te,
homem,
a minha casa
para aprenderes a ser mulher.
Que nenhum outro fim
a casa tem.
levo-te,
homem,
a minha casa
para aprenderes a ser mulher.
Que nenhum outro fim
a casa tem.
Mia Couto
segunda-feira, 10 de julho de 2017
Agradecimento
Caros Amigos
Expressamos o nosso agradecimento a todos os
presentes no maravilhoso “Manhãs de Poesia” de ontem, especialmente às pessoas que
se juntaram a nós pela primeira vez.
Um agradecimento especial à Sandra e ao Guilherme, pelos belos
momentos que nos ofereceram através da música.
Aproveitamos
para informar que em Agosto não haverá o “Manhãs de Poesia” dado que o espaço se
encontra fechado para férias.
Este blogue continua sempre activo e disponível para
as vossas partilhas e sugestões, relembro que este é um espaço de, e para todos
nós.
Saudações Poéticas
Poema do Sol - José Luís Bastos
Poema
do Sol
Eu
sou o Sol, o teu melhor Amigo
Dou-te
a Luz e o Calor que precisas para a tua Vida
E
faço isto não apenas contigo
Mas
com todas as pessoas, animais e plantas
Com
todo o Planeta
Na
verdade criaram-me para Amar e Servir
Para
dar Luz, Calor e Vida
Para
tudo regenerar e vivificar
Eu
sou essa fonte de energia inesgotável
Que
ama incondicionalmente tudo e todos
Eu
sou o teu Pensamento Positivo
Sou
o Amor que arde sem se ver no teu Coração
Eu
sou aquele Sorriso que fizeste no teu primeiro desenho
Se
queres ser Feliz, sê como eu
Sê
bom para ti e para os outros
Aonde
queres que vás, nunca te esqueças:
De
Sorrir, de levar a tua Luz e a tua Alegria
Verás
que também tu podes ser um Sol
para
ti e para muitos outros
Pois
só assim se pode viver uma Vida Com Sentido!
JLB
( à minha filha nos seus 6 anos)
domingo, 9 de julho de 2017
Sobre a Vida - Maria Assis
Sobre la vida
Sólo por la integralidad del alma
Nace el ímpetu de un paso más
Salto de fe en la incógnita de cada día
Encuentros son portales de posibilidades
Balanceando en el debe y haber del destino
Fermentados en la dádiva, en la fraternidad
Las partidas son abismos a transponer
La profundidad es la medida del amor
Algunos,
No se llenan ni el tiempo cura
Maria Assis
Sólo por la integralidad del alma
Nace el ímpetu de un paso más
Salto de fe en la incógnita de cada día
Encuentros son portales de posibilidades
Balanceando en el debe y haber del destino
Fermentados en la dádiva, en la fraternidad
Las partidas son abismos a transponer
La profundidad es la medida del amor
Algunos,
No se llenan ni el tiempo cura
Maria Assis
sábado, 8 de julho de 2017
Vida Amanhecida - Aida Duarte
VIDA AMANHECIDA
O
corre-corre da vida deixa marcas, encontrões. Tenho a vida amanhecida: larguei
cismas, ilusões... Ela bem me desafia, espicaça, mas em vão!... Quebrar-me,
fazer-me em cacos?... Nem por um dia, isso, NÃO!
As
marretadas da vida abalam, dão empurrões! Põem à prova a nossa força, só que a
vida amanhecida nasce em nós todos os dias... Nascemos a cada instante,
conforme a vida deixar.
Sábia a
idade, mestra a VIDA que nos faz assim pensar!
Maria Aida
Duarte
quinta-feira, 6 de julho de 2017
Vida - Maria Adelina
Vida
Vida sem
sonho é vida perdida
Bátega de
água sem destino
Rega, sem
campo ou cultivo
“O Sonho
comanda a vida”
Ao
inverter o paradigma
A vida,
comanda o sonho
Vivo! o
sonho de me saber
A juntar
vontade e querer
A ser, o
sonho pelo qual vivo
Estrela
do meu horizonte, viver, é estar presente!
Na
lucidez da mente, criar o sonho do renascer!
Ser-se
humano, e vivo, é o abraço fraterno sonhado
E pela
senda de tantos passos, eternizado.
A.
A Vida - Florbela Espanca
É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo donde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia...
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés d'alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo "Pedro Sem",
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo donde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia...
A gente esquece sempre o bem dum dia.
Que queres, ó meu Amor, se é isto a Vida!...
Florbela Espanca, in "Livro de Sóror Saudade"
quarta-feira, 5 de julho de 2017
Vida - Álvaro de Campos/FernandoPessoa
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os
olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.
Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na ideia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.
Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento.
Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos —
Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o
compreender
E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
E o meu destino apareceu-me na alma como um precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez.
Ah, balouçado
Na sensação das ondas,
Ah, embalado
Na ideia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã,
De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas,
De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali,
Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse.
Ah, afundado
Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono,
Irrequieto tão sossegadamente,
Tão análogo de repente à criança que fui outrora
Quando brincava na quinta e não sabia álgebra,
Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento.
Ah, todo eu anseio
Por esse momento sem importância nenhuma
Na minha vida,
Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos —
Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma,
Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o
compreender
E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro.
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Um pouco de mim
Um
pouco de mim
A vida
me ensinou
Que
para ser o que sou
Estive
sempre presente
Sinto
orgulho no que fiz
Foi
deus que assim o quis
Era
ainda adolescente
Não foi
fácil conseguir
Mas
nunca quis desistir
Porque
sempre acreditei
Que um
dia iria ter
A recompensa
de ser
A
pessoa que sonhei
Tive
mestres exigentes
Que
foram influentes
Em tudo
que aprendi
Hoje
posso afirmar
Que
irei sempre preservar
O muito
que consegui
O meu
muito obrigado
A meu
pai que já cansado
Me deu
sempre o melhor
Com
orgulho reconheço
E ele
sabe bem que mereço
O seu
carinho e amor.
Carlos
Arzileiro
terça-feira, 4 de julho de 2017
segunda-feira, 3 de julho de 2017
Acende Tua Alma, Inspiração
Inspiração é a Alma quando acende
Brilha e expande no sopro
incandescente
Do rubro carvão nas cinzas
remanescente
Inspiração são os Anjos a
sorrir
Mensageiros de códigos secretos
Toques de amor eternizados
Inspiração é o tabernáculo
Da pura essência do coração
Dialecto esquecido da razão
Inspiração é prece ou oração
Pétalas de rosa pairando
Silêncios carregados de som
A.
domingo, 2 de julho de 2017
sábado, 1 de julho de 2017
Subscrever:
Mensagens (Atom)