SE EU FOSSE
Se eu fosse
Dono desse sorriso travesso,
Se eu fosse
O grito do silêncio em garganta rouca…
Se eu fosse
Poema que não morre e corre ao vento,
A todo o tempo conheceria as idades
De meu corpo e de minha alma.
Se eu fosse
Paisagem alagada de sol,
A cada madrugada sucederia novo dia.
Se eu fosse
Vaporoso fantasma de diáfana palidez,
Apagaria as chamas
Do olhar com que me chamas.
Se eu fosse
Quimera dolorosa,
Sentiria renascer a paixão da mocidade.
Se eu fosse
Só e voasse como pássaro perdido,
Saberia que, depois da perda,
Se escutam vozes que se calaram.
Se eu fosse
Como a borboleta
Que levita de flor em flor…
Se eu fosse
Porto sem barcos sem água
Sem docas nem gaivotas…
Se eu fosse Prometeu
Que ambicionou o fogo do céu…
Se eu fosse
Feiticeiro e alquimista,
Não queria tanta gente a chorar,
Nem que lhe restasse só a solidão.
As lágrimas também padecem.
João Coelho dos Santos
Do 35º livro – FINITO INFINITO
3 comentários:
João, parabéns por este poema, e pela imensa obra poética que é a tua vida e o teu legado literário.
Se eu fosse a saudade te traria para perto de mim.
Bem-vinda ao nosso cantinho de poesia, amiga antiga
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