quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Recomeço - António Alves Cardoso - Recomeços





RECOMEÇO

Solta as tuas lágrimas, abre-me
As vísceras
E afoga-me no lago dos queixumes…

Eu sei que a dor é amarga
Eu sei que a dor é funda
Mas há de haver em algum lado
Uma janela que dê para a fraternidade dos dias
Como maçãs poisadas nos parapeitos das janelas.

Por vezes, a solidão enche a casa toda
E esmaga as flores que querem
Rebentar do solo quente e fértil da memória...

Mas há sempre uma espada,
Há sempre um estilete
Que perfure as paredes que nos cercam
E desenhem janelas
E desenhem portas
Onde antes só havia muros…

Dá-me as tuas dores
Que eu farei delas
Um bouquet de flores
E de esperança…

A. Alves Cardoso. 


2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns!
“A poesia é tão rápida e tão luminosa, tão igual e tão diferente.” Vergílio Ferreira

Cecília Pires disse...

Belo poema! Recomeçar implica sempre um ato de vontade e de esperança. Fazer das íntimas dores um bouquet de flores! Linda metáfora!