A chegada do Amor
O amor chegou, e desembarcou no
cais,
onde ninguém o esperava, fazendo
a cidade inteira estremecer, como
se
o amor a tocasse.
Mas alguém o viu sair
do barco, e levou-o para a fila
da alfândega, onde lhe perguntaram:
"Donde
vem? Que traz consigo? Mostre
o passaporte." O amor não
percebeu
o que lhe pediam; pôs o arco
sobre
a mesa, e juntou-lhe as flechas.
“Tudo apreendido: não queremos
agressões
nesta cidade; proibidas as armas
brancas.” E
o amor, sem passaporte, ficou no cais,
por entre sacos de lixo e
vagabundos
sem nada para fazer.
E à noite, quando a cidade
adormece, todos perguntam
quando chega o amor.
Nuno Júdice
4 comentários:
Lindo,lindo! A Chegada do Amor! Como é simples e ao mesmo tempo profundo.
Descobrimo-lo. Olhemo-lo de frente para que se afaste dos arredores do cais e se aproxime de nós! Parabéns ao autor.
Faz-me lembrar o poema "Urgentemente" de Eugénio de Andrade. Num mundo onde grassa cada vez mais a desumanidade, e basta que nos lembremos nos últimos acontecimentos, como a guerra na Síria e as sucessivas mortes no cemitério do Mediterrâneo, o individualismo em que cada um de nós vive, e quão oportuno e verdadeiro é este simbólico poema de Nuno Júdice, de facto! Faz-nos refletir sobre nós e o mundo. Talvez esteja na hora de abolirmos as alfândegas e deixarmos o amor entrar sem restrições. Do amor depende a salvação do Homem e da humanidade que, neste momento, caminha por ruas estreitas e desertas. Parabéns ao autor
Um poema muito profundo e atual. É sempre bom lermos poemas destes, Parabéns ao autor.
Intensa forma de nos fazer despertar para a realidade daquilo que tanto falamos e tão pouco se pratica.
Ao autor, gratidão pela reflexão.
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