domingo, 6 de novembro de 2016





A chegada do Amor

O amor chegou, e desembarcou no cais, 
onde ninguém o esperava, fazendo 
a cidade inteira estremecer, como se 
o amor a tocasse.

Mas alguém o viu sair 
do barco, e levou-o para a fila 
da alfândega, onde lhe perguntaram: "Donde 
vem? Que traz consigo? Mostre 
o passaporte." O amor não percebeu 
o que lhe pediam; pôs o arco sobre 
a mesa, e juntou-lhe as flechas.

“Tudo apreendido: não queremos agressões 
nesta cidade; proibidas as armas brancas.” E 
o amor, sem passaporte, ficou no cais, 
por entre sacos de lixo e vagabundos 
sem nada para fazer.

E à noite, quando a cidade 
adormece, todos perguntam 
quando chega o amor.


Nuno Júdice 


4 comentários:

Unknown disse...

Lindo,lindo! A Chegada do Amor! Como é simples e ao mesmo tempo profundo.
Descobrimo-lo. Olhemo-lo de frente para que se afaste dos arredores do cais e se aproxime de nós! Parabéns ao autor.

Cecília Pires disse...

Faz-me lembrar o poema "Urgentemente" de Eugénio de Andrade. Num mundo onde grassa cada vez mais a desumanidade, e basta que nos lembremos nos últimos acontecimentos, como a guerra na Síria e as sucessivas mortes no cemitério do Mediterrâneo, o individualismo em que cada um de nós vive, e quão oportuno e verdadeiro é este simbólico poema de Nuno Júdice, de facto! Faz-nos refletir sobre nós e o mundo. Talvez esteja na hora de abolirmos as alfândegas e deixarmos o amor entrar sem restrições. Do amor depende a salvação do Homem e da humanidade que, neste momento, caminha por ruas estreitas e desertas. Parabéns ao autor

Anónimo disse...

Um poema muito profundo e atual. É sempre bom lermos poemas destes, Parabéns ao autor.

Unknown disse...

Intensa forma de nos fazer despertar para a realidade daquilo que tanto falamos e tão pouco se pratica.
Ao autor, gratidão pela reflexão.