Manuel Maria Barbosa Bocage
Quantas
vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas
vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas
vezes, Razão, me tens curado?
Quão
fácil de um estado a outro estado
O
mortal sem querer é conduzido!
Tal,
que em grau venerando, alto e luzido,
Como
que até regia a mão do fado,
Onde
o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois
com ferros vis se vê cingido:
Para
que o nosso orgulho as asas corte,
Que
variedade inclui esta medida,
Este
intervalo da existência à morte!
Travam-se
gosto, e dor; sossego e lida;
É
lei da natureza, é lei da sorte,
Que
seja o mal e o bem matiz da vida.
Bocage
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