DESCOBERTA
O
relógio da Sé, na contraluz,
Marcava
o destino e a hora da partida
Nas
águas do Tejo reflectia-se a luz
E
o velame dos barcos que estavam de saída…
Na
margem os que ficavam e partiam
Davam
ao céu mui altos gritos
Como
pombas doloridas que se iam
Pelos
vastos horizontes infinitos…
O
rei ergueu as mãos por sobre o rosto
E
todos se curvaram
E
depois disse - «Ide! Deus seja convosco!»
E
as naus ao mar se aventuraram…
E
depois o mar abriu-se em ilhas
Em
portos, enseadas e tormentos
Em
coisas nunca vistas, maravilhas
Em
dores agrestes e duros sofrimentos
E
o relógio da Sé marcava as horas
Os
sucessos, as partidas, as chegadas
Os
naufrágios, as mortes, as demoras
E
a dor das almas enlutadas
E
foi assim que o mundo se alargou
Pelo
sopro criador das velas lusas
Foi
este o mundo que o Português criou
Sem
o auxílio de deuses nem de musas…
A.
Alves Cardoso
3 comentários:
Poema magnífico! Sobre a gesta marítima! Com ritmo, com encadeamento, e muito bem estruturado. Muitos parabéns ao autor!
Uma viagem no tempo, a um tempo marcante da nossa História. Muito bom.
São vozes de outras épocas e de muitos lugares. Talvez com o auxílio de deuses e de musas...
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