quinta-feira, 23 de junho de 2016




Chuva Interior

tanto que tu de mim levaste contigo tanto
levaste ruas jardins cafés parques até cidades:
os lugares que eram nossos e a que não voltarei
levaste a confiança da árvore no seu florir
deixaste as pedras e os cardos que me tornei
levaste destes olhos agora da cor das ausências
os mil brilhos de cristais que neles te constelei
levaste os pássaros que dos beirais do coração te
lançava e que em céus de exílio entretanto espantei
levaste o mar e ilhas futuras que me azulava a
alma e assim em praia de sargaços me desalmei
levaste as palavras que desde uma antiga manhã
para ti guardava e que nunca mais me ouvirei
levaste os poemas que na minha mão semeavas
e que porque te foste jamais escreverei


Sousa Dias (e Ítaca eras tu)




2 comentários:

Cecília Pires disse...

Quem nos habita leva sempre alguma coisa, mas também deixa sempre algo... a vida é um constante perder e ganhar..., mas, no final, a soma de ambas as coisas dá sempre um saldo positivo...

Unknown disse...

Um Poema escrito com o coração! Um vazio cheio de muitos sentimentos... Lindo para ser musicado.

" É quase impossível chorar e perceber nitidamente o caminho das lágrimas, desde as suas raízes até aos olhos.(Cecília Meireles).