QUERO
Quando
um dia eu partir ao encontro do meu destino
Repondo
assim a ordem cósmica da minha criação,
Quero
que encares este facto como mais um daqueles nossos gestos de amor
Que
fomos oferecendo um ao outro e não deixes que eles te abandonem.
Quando
eu mudar de rumo na minha caminhada em busca da luz
Quero
que continues a presentear o mundo,
Com
o mesmo sorriso com que me despertavas todos os dias,
E
o deixes esvoaçar até junto de mim.
Quando
o meu embrulho físico se tiver dissolvido,
Quero
que mantenhas a rotina das emoções e sentidos
Com
que mutuamente nos íamos seduzindo,
Mas
não feches o teu coração ao amor.
Quando
a minha existência se esconder no alforge da memória,
Quero
que continues a ler o meu livro,
A
partir do separador que aguarda o meu retorno,
Para
que ele não perceba que não mais o lerei.
Quando
o meu ser deixar de ter ressonância física,
Quero
que chores as lágrimas dos nossos sofrimentos
Reprimidas
na vã tentativa de eliminar a nossa perda,
Mas
não te deixes afundar num mar de lamentos.
Quando
finalmente não ouvir o eco da minha agitação,
Quero
que fales comigo aquela linguagem quente
Com
que me enchias o coração
E
não condenes a minha resposta silenciosa
Nelson Neves
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