DECLARAÇÃO DE AMOR
Escorre dos teus olhos
o desejo de uma declaração de amor, a
necessidade daquelas palavras
que outrora legitimavam a aventura da sedução,
o jogo da solicitação e da entrega.
Mas o amor todo ele é espuma, bem sabes,
delicado,
ténue e frágil como uma teia, como um lírio
ou como tule
e não pode ser surpreendido nem
perturbado por nada,
mesmo que seja uma pena,
um sopro ou
um leve ciciar de palavras.
Deixa em tranquilidade o amor,
assim suave,
assim doce.
Deixa-o como está…
assim…
assim…
assim mesmo.
Em todo este tempo,
era suposto que tivesses aprendido a vislumbrar o amor,
a pressenti-lo sem que tivesse de to dizer,
a farejá-lo na transparência da lagoa que sou e
te acolhe
e em cuja água enxaguas o corpo,
refrescas os olhos e as mãos,
aliviando-te do ardor.
É certo que há saudades dos tempos de namoro,
Quando nós éramos outros…
mas uma declaração de amor, hoje,
não.
Seria um tropel de palavras a alvoroçar-te,
a desinstalar-te da tua certeza,
a desinquietar-te na tua serenidade.
Declaração de amor, para quê?
Como se a tua ou a minha aproximação já
não empolgassem o outro,
e a entrega não nos tornasse o corpo mais leve
e mais ágil
e não nos enchesse a alma de jardins,
secretos,
mais coloridos e brilhantes que todos os arco-íris.
Miguel Leitão
14 de Fevereiro de 2016
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