domingo, 8 de fevereiro de 2015

A PRENDA

O menino
recebeu  a dádiva.

Era o seu dia, assim disseram.

Estranhou:
os outros dias não eram seus?

Se achegou.
Espreitou.

A oferenda,
era coisa tão nenhuma
que nem parecia existir.

 - O que é isso? Perguntou.
 - É uma prenda, responderam.

Que prenda poderia ser
se tinha forma de nada?

 - Abre.

Abrir como,
Se não tinha fora nem dentro?

 - Prova.

Como provar
o que não tem onde se pegar?

Olhou melhor.
Fixou não a prenda,
mas os olhos de quem lha dava.

Foi, então:
O que era nada
lhe pareceu tudo.

Grato,
retribuiu com palavra e beijo.

O que lhe ofereciam
era a divina graça do inventar.

Um talento
 para não ter nada.

Mas um
dom para ser tudo.


MIA COUTO

1 comentário:

Maria Adelina Lopes disse...

Quanta beleza e saber num poema que parece nada dizer Leva-nos ao cume do aprender sem livro, alfaia, ou castigo
O melhor professor é a descoberta de que sem nada temos tudo