ESPERA
As
camélias já floriram e tu não vieste.
Entardeceste
no tempo. Pousaste um passado, que era nosso, na memória dos dias, e não
vieste. Silenciaste as palavras, os sonhos, a ternura. Viveste um tempo teu,
sem laços, sem prisões. E envelheceste.
Porquê
tanta amargura?
Encosto-me
à vidraça e sonho. Chegam de volta os dias, a ternura, as manhãs
claras.Tocam-me os teus dedos; prendem-me os teus braços; esmaga-me o teu
corpo.E eu sou de novo a tua menina; sinto de novo a minha fragilidade. Sinto
de novo a tua força; volto a ser pequenina ao pé de ti.Aconchego os sonhos na
tua presença terna e arrebatadora.O teu colinho embala-me e traz-me tudo.
Faz-me parar no tempo. Ser pequenina. Numa acalmia doce, inventada.
As
camélias envelheceram e tu não vieste.
Entardeceste
no tempo.
Porquê
tanto azedume?
Deixo
a vidraça. Solto a força do meu grito. Quero apagar os sonhos, desamar. Quero
clarear a noite, a noite da tua ausência; mas não amanheço. Faltam-me os gestos
de ternura, o alento, a força da tua presença.
Encosto-me
de novo à vidraça. Numa espera longa, sem um gesto.
Porquê
tanta distância?
As
camélias já caíram e tu não vieste.
Envelheceste
no tempo, e eu à espera. À espera de ser de novo a tua menina.
Maria
Aida Araújo Duarte